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Combatendo o bom combate

 1Timóteo 1.18-19

Introdução:

Em caso de guerra, é necessário estar preparado para o combate. No exército do Senhor O apóstolo Paulo não queria que Timóteo fosse para a batalha despreparado.

Paulo sabia que a guerra invisível entre Deus e mal não é nenhum piquenique, mas uma luta até a morte. Então, ordenou ao seu jovem assistente que se preparasse para o combate espiritual.

Paulo fala a Timóteo como pai na fé, mas especialmente como um general: “Este é o dever de que te encarrego” (1Tm 1.18).

Em sentido espiritual, Timóteo já não era mais um civil, mas um soldado do exército de Deus. Suas ordens militares eram “segundo as profecias de que antecipadamente foste objeto” (1Tm 1.18).

Esse comentário pessoal desperta a nossa curiosidade. O que havia sido profetizado a respeito de Timóteo?

Isso pode se referir aos relatos que Paulo ouviu a respeito de Timóteo em Listra e que levou o jovem a se juntar à equipe (At 16.1-3). Mais provavelmente, Paulo estivesse se referindo a algo que havia acontecido na ordenação de Timóteo.

Timóteo, na sua ordenação, recebeu um dom espiritual “mediante profecia”.

1Tm 4.14 'Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério”.

Não temos necessidade de saber o conteúdo dessa mensagem profética; do contrário, a Bíblia o teria mencionado. O que sabemos é que o chamado de Timóteo para o ministério foi confirmado por meio de uma palavra profética (época apostólica).

Não combata o mau combate

Ao atender ao chamado para o ministério, Timóteo recebeu ordens de combater “o bom combate” (1Tm 1.18). Isto dá origem a uma pergunta óbvia: “O que é esse bom combate?” 

Em si a expressão sugere que há alguns combates que não são bons. Timóteo é advertido várias vezes ao longo da carta a respeito do perigo de lutar desnecessariamente.

Ele deveria se afastar de questões que promovem controvérsias (1Tm 1.4). Como presbítero da igreja, ele deveria ser “inimigo de contendas”.

As Escrituras advertem contra essas disputas porque a maioria das disputas cristãs é de combates incorretos. Contendas e controvérsias sempre trazem perigos para a igreja.

A maioria dos combates que acontecem na igreja é de guerras civis; e a maioria das mortes é causada por fogo amigo. Toda verdade bíblica precisa ser ensinada, discutida, crida e praticada. No entanto, nenhuma verdade bíblica deve ser defendida com um espírito de discórdia. Brigar por tradições da igreja também é ruim.

Craig Barnes, ex-pastor da Igreja Presbiteriana Nacional em Washington, D.C., conta que se envolveu numa discussão dolorosa por causa de uma mesinha de centro. Resolveram colocar uma mesa de centro na entrada da igreja sem consultar um Diácono. Ele renunciou o ofício. Várias pessoas o acompanharam. O Conselho da igreja entrou na confusão. Repreendeu todo mundo, causando mais revolta. A igreja praticamente parou por causa disto. O evangelho deixou de ser pregado e a obra ficou em segundo plano.

Alguns combates não valem a pena ser travados. Algumas guerras não valem a pena ser lutadas. Com frequência demais, as ovelhas do Senhor acabam feridas por terem sido atacadas por membros do próprio rebanho. 

Como diferenciar o mau combate do bom combate?

Fazendo perguntas:

Esta questão fará diferença daqui a um ano? Se a resposta é não, provavelmente não fará diferença nenhuma agora também.

Estou gostando desta discussão por algum motivo perverso? Se a resposta for “sim”, talvez você esteja discutindo pelos motivos errados. 

Estou lutando por mim ou pelo evangelho? Uma coisa é defender seu interesse outra coisa é defender a glória de Deus

Combater o bom combate

Há muitos combates inúteis, porém há apenas um bom combate. E o combate que Paulo tem em mente é a defesa das doutrinas centrais da fé cristã. Essa carta inicia com Paulo insistindo que Timóteo se oponha às falsas doutrinas.

O apóstolo retorna à questão de que está tratando, que é o problema da heresia na igreja. Portanto, ele retorna à “responsabilidade de Timóteo de extirpar a heresia e estabelecer a sã doutrina”. O bom combate é a batalha pela teologia correta. O bom combate é a luta em defesa daquelas doutrinas que são essenciais à fé cristã.

Isso inclui doutrinas como a realidade da Trindade, a divindade de Jesus, a necessidade de expiação pelo pecado, a suficiência da morte de Cristo na cruz, a eficácia da fé, e somente ela, para a justificação e a infalibilidade da Escritura Sagrada.

Essas verdades profundamente teológicas são dignas de serem defendidas. O povo de Deus nunca conseguiu simplesmente descansar na fé; sempre teve de lutar por ela.

Esse bom combate começou no Antigo Testamento. Quando Moisés desceu do monte, o povo de Israel já estava adorando o bezerro de ouro (Êx 32); Josué precisou confrontar os israelitas quanto a quem serviriam, a Deus ou aos deuses (Js 24); Elias teve de enfrentar sozinho 450 profetas de Baal (1Rs 18).

Embora nem todos os profetas tivessem de encarar desafios semelhantes, todos enfrentaram o mesmo inimigo. Esse bom combate foi retomado no Novo Testamento.

A maior parte dos ensinamentos de Jesus foi para confrontar a falsa teologia dos fariseus. Todas as cartas do Novo Testamento dizem respeito à sã doutrina.

Ao que parece, havia dentro da igreja tantos inimigos quanto no lado de fora. A história subsequente da igreja é, em grande parte, uma história de confrontação doutrinária. Com o tempo, erros doutrinários tornaram necessário que o Espírito Santo reformasse a igreja.

A Escritura teve de ser defendida como padrão único de fé (sola Scriptura). Cristo teve de ser defendido como único mediador (solus Christus). A fé teve de ser defendida como único instrumento de justificação (sola fide). A graça teve de ser defendida como único instrumento da salvação de Deus (sola gratia). 

Nunca houve uma época na qual o povo de Deus não corresse o perigo de cair em erro. A história da igreja confirma a necessidade das instruções de combate que Paulo transmitiu a Timóteo. Até que Cristo retorne, o povo de Deus viverá uma guerra perpétua contra a falsa doutrina.

A fé cristã sempre necessitará de ser defendida, não apenas do paganismo, mas especialmente da heresia. Os cristãos anseiam por paz na igreja, e fazem bem ao fazê-lo.

No entanto, acreditar que a união doutrinária possa ser alcançada sem luta revela falta de entendimento a respeito da história da igreja.

Não é suficiente dizer: “Por que simplesmente não cremos em Jesus?” O realismo bíblico adverte os cristãos contra ecumenismo ingênuo.

Uma vez que todo ministro é um guerreiro, Timóteo deveria se preparar para a guerra. Nós também. Portanto, qual é o nosso bom combate? 

Primeiro, é uma luta pela inerrância bíblica. Embora a igreja evangélica tenha vencido a batalha a favor da Bíblia, é possível que esteja perdendo a guerra.

Muitos estudantes e professores de alguns seminários e igrejas não se mostram firmemente apegados à doutrina da Escritura. Em alguns casos defendendo interpretações que questionam a autoridade da Bíblia.

Consequentemente, ainda persiste a necessidade de ensinar e defender a verdade de que a Bíblia é a palavra de Deus. 

Segundo, há a luta pela salvação apenas por meio de Cristo.

Terceiro, o bom combate é uma luta em favor da justificação pela graça somente por meio da fé.

A Bíblia ensina que o pecador é declarado justo diante de Deus exclusivamente com base na justiça de Jesus Cristo, imputada a ele pela fé. Os inimigos da sã doutrina não simplesmente fugirão. Eles precisam ser afugentados.

O bom combate da fé cristã deve ser travado o tempo todo. A razão pela qual o cristão deve lutar está no fato de que temos um inimigo. Esse inimigo já recebeu seu golpe mortal, mas ele não será derrotado até a segunda vinda.

Assim, Calvino advertiu quanto à sã teologia:  o diabo resiste tanto quanto pode, porque a doutrina da salvação que é pregada para nós pelo evangelho é como se fosse a alma da igreja, o reino de nosso Senhor Jesus Cristo, a bem-aventurança dos homens. Portanto [...] o evangelho nunca pode deixar de ser pregado, mas o diabo, enraivecido como está, procura interromper o avanço do evangelho. [...].

Aqueles que têm de pregar o evangelho enganam a si mesmos se pensam que podem exercer seu ofício tranquilamente.

E isso por quê? Porque o diabo não tolera que preguem a Palavra de Deus desimpedidamente, mas resistirá a ela. [...]. Por isso, devemos estar preparados para lutar.

Uma boa consciência

O bom combate não é mera questão de fé; é também uma questão de prática. Paulo ordena a Timóteo que se apegue à “fé e boa consciência” (1Tm 1.19). Era necessário que Timóteo praticasse o que pregava.

A vida cristã é tão importante quanto a fé cristã, e a defesa da sã doutrina diz respeito tanto à crença quanto à prática. Fé e consciência caminham juntas de várias maneiras. Obviamente, a falsa doutrina leva a deficiência moral. Contudo, uma má consciência com frequência leva à má doutrina.

Com frequência, as pessoas tentam justificar seus pecados, por meio de consciências corrompidas. Fé e consciência andam sempre juntas, especialmente na vida do lider.

O teólogo escocês John Willison dá este conselho aos pastores: “Se quisermos promover o bom nome da igreja e evitar seu descrédito, devemos ser cuidadosos em pregar ao nosso povo tanto por meio dos lábios quanto por meio de nossa vida, de modo que a doutrina que pregamos de púlpito esteja em conformidade com nossas conversas do dia a dia. Tenhamos em mente que uma maneira de viver licenciosa em pouco tempo irá demolir o que foi construído pela maneira mais vigorosa de pregar; isso porque nosso povo tem olhos para ver como nos comportamos, e ouvidos para ouvir o que dizemos.”

Isso tudo para dizer que a fé cristã não deve ser simplesmente defendida, mas também vivida.  

 


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