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Vivendo o natural e o sobrenatural

 


At 12:9-17

Introdução:

Pedro é liberto da prisão de maneira fantástica.

Um anjo o acordou e o conduziu para fora da prisão.

Diz o texto que depois passarem a primeira e a segunda sentinela, chegaram ao portão de ferro que dava para a cidade.

O portão se abriu automaticamente; e, saindo, enveredaram por uma rua, e logo adiante o anjo se apartou dele.

O anjo, até aquela altura, estava fazendo tudo; mas, agora, de repente, ele deixa Pedro por conta própria.

O apóstolo fica parado ali na rua.

Desenvolvimento:

Duas coisas são mencionadas a respeito de Pedro, uma no versículo 11 e a outra no versículo 12.

A primeira é: “Então, Pedro, caindo em si”, e a segunda, no versículo 12: “E, considerando ele nisso”.

Pedro caiu em si e considerou algo. Não me preocupo com o que ele considerou.

Pedro saiu “não sabendo que era real o que se fazia por meio do anjo; parecia-lhe, antes, uma visão”.

Aqui temos dois aspectos da vida cristã.

Qual é o lugar do miraculoso e do sobrenatural na vida cristã?

Pedro seguindo mecanicamente o anjo, e, no momento seguinte, após o anjo apartar-se dele, Pedro pensando.

Na história da igreja as pessoas sempre têm ido de um extremo a outro.

Alguns enfatizam apenas o sobrenatural, como se não existisse outro aspecto da vida cristã.

Já outras pessoas excluem totalmente o sobrenatural, e consideram a vida cristã em uma característica racional.

Algumas pessoas tentam jogar uma coisa contra a outra, de exaltar uma em detrimento da outra.

Por que precisamos dizer que tudo é miraculoso ou nada é miraculoso?

Não é preciso ressaltar uma coisa excluindo a outra. Ambas as coisas são válidas.

Por que isso é importante? Por que é tão importante considerarmos esse assunto?

1. Porque somos seres racionais

Como seres que pensam, não temos o direito de deixar certos aspectos da vida cristã no escuro.

É nosso dever pensar, argumentar e compreender o tanto quanto possível.

Cada um de nós deve procurar luz e conhecimento.

De forma alguma o evangelho premia a ignorância e o obscurantismo.

Com certeza não tem havido nada na história do mundo que tenha estimulado tanto os homens a raciocinar e pensar como o evangelho.

É nosso dever examinar as Escrituras e compreendê-las o melhor que pudermos.

Não é razoável as pessoas se fecharem em determinado círculo, recusando-se a considerar questões difíceis.

É nosso dever encarar a verdade e explicar os fatos da melhor maneira que pudermos.

2. Não podemos levar a fé ao descredito

Não há nada que tenha levado tanta gente a indispor-se contra a fé do que as reivindicações extravagantes que têm sido feitas em nome do evangelho.

As pessoas têm alegado intervenções miraculosas quando é patente que o ocorrido é algo que pode ser facilmente explicado.

E, devido às falsas alegações, há muitas pessoas inteligentes que se voltam contra a igreja e tudo que se refere à religião.

Pelos interesses da verdade e da igreja e de seu Senhor, nossa obrigação é compreender a situação o máximo que pudermos.

Para não trazermos desgraça sobre a instituição a que pertencemos.

3. Combater as falsas expectativas

Algumas pessoas, de repente, se encontram em uma situação que parece que os milagres não acontecem.

Essas pessoas acham que Deus as deixou, e muitas delas acham que pecaram contra o Espírito Santo.

Isso acontece por falsas expectativas criadas.

Acharam que ao entrar na igreja tudo iria mudar de uma forma sobrenatural.

Ficam profundamente deprimidas e algumas vezes até entram num estado de transtorno mental e desequilíbrio.

A maneira de evitar isso é tentar compreender o ensino do Novo Testamento com respeito à interrelação do sobrenatural e do natural.

4. Discernimento das situações

Sempre saberemos o que esperar e o que devemos fazer toda vez que nos encontrarmos no tipo de situação que é descrita nesse capítulo.

Nós não sabemos o que o futuro nos reserva.

Talvez haja um tempo terrível de perseguição lá adiante.

O que devemos esperar, o que devemos fazer, se nos encontrarmos nas circunstâncias em que Pedro se encontrava?

É somente se tivermos aprendido a compreender entre esses dois elementos, que estaremos precavidos para qualquer emergência que possa surgir.

Essas são algumas razões que fazem disso tudo nosso dever sagrado para encararmos essa questão.

Qual é o ensino desse episódio?

Precisamos reconhecer o fato miraculoso na vida cristã.

O elemento miraculoso constantemente entra na situação.

Os primeiros dias da igreja cristã foram grandemente marcados por essa evidência de milagres e poder sobrenatural.

Deus operou milagres especiais pelas mãos de Paulo e Pedro, e isso levou a um grande crescimento da igreja.

Com certeza, o fato dos milagres encontra-se além de qualquer controvérsia.

Ser um cristão não é apenas ser bom, decente e virtuoso.

Ser cristão implica na intervenção de Deus na vida da pessoa.

O miraculoso acontece unicamente no tempo de Deus.

Isso fica bem claro em nossa história aqui.

O anjo veio a Pedro quando este estava adormecido.

Deus sempre toma a iniciativa nesses milagres e nesse assunto.

Você jamais encontra os apóstolos anunciando que vão operar um milagre no dia seguinte ou em qualquer outro dia.

Algumas pessoas hoje afixam cartazes anunciando que haverá milagres e convidam as pessoas a virem à reunião.

Não há nada parecido com isso no Novo Testamento.

Deus faz o que as pessoas não conseguem

O elemento miraculoso entra quando o homem se depara com algo que não consegue fazer.

Pedro ali na prisão está completamente desamparado.

Deus opera de maneira miraculosa e quando o homem se depara com uma situação em que ele não consegue fazer nada.

Esse é o princípio igualmente aplicável em todos os outros casos e exemplos encontrados em toda a história da igreja.

Os milagres cessam no ponto em que a capacidade humana é suficiente.

O homem, então, é deixado para encarar sozinho a situação.

“Então, Pedro, caindo em si” — ou seja, depois que o anjo se apartara dele.

Pedro havia chegado ao ponto em que podia usar sua própria mente.

Ele é deixado considerando por si a que casa seria melhor dirigir-se.

O anjo não o conduz para a casa da mãe de João Marcos. Pedro faz isso tudo por conta própria.

O miraculoso cessa exatamente naquele ponto em que a capacidade do homem é suficiente, e ali ele o deixa por conta própria.

A lição deve ser evidente e clara, que não devemos esperar em nossa experiência cristã uma constante manifestação do sobrenatural.

A vida cristã não deve ser representada como uma contínua manifestação de milagres.

Conclusão:

Por que existe o elemento miraculoso e o comum?

Sob o miraculoso, o homem se encontra num estado mais ou menos passivo.

Ele pensou que estivesse tendo uma visão.

Esse é um estado mecânico em que o homem não sabe ao certo o que está acontecendo.

Ele faz o que faz sem saber como ou por quê. A ação é automática.

Isso é plenamente verdade na experiência de conversão.

Em certo sentido, o homem está ciente de algo acontecendo e mesmo assim ele não sabe o que está ocorrendo.

É somente quando passa a pensar a respeito disso mais tarde e lê a Bíblia que ele começa a entender o significado de tudo que aconteceu.

É à medida que crescemos na graça e no conhecimento que começamos a apreciar algo do coração eterno.

Deus não quer que nos comportemos como máquinas.

Ele nos fez e nos concedeu uma mente, um cérebro, o poder de raciocinar e pensar.

Ele ordenou as coisas de tal forma, que há coisas que somente ele consegue fazer, e, após fazê-las, ele nos deixa por conta própria para pensarmos e raciocinarmos.

É uma tragédia que tanta gente gaste sua vida cristã sentada, como numa cadeira de balanço, esperando que os céus se abram.

Quando consideramos a situação como Pedro o fez, ficaria bem óbvio que há muitas coisas que elas podem fazer por si mesmas.

Deus concede-nos a graça e a sabedoria para fazermos aquilo que temos competência para fazer.

Imagine por um momento que Pedro, após o anjo deixá-lo sozinho, ficasse esperando onde estava, acreditando que o anjo voltaria para dizer-lhe para onde se dirigir.

Não é preciso muita imaginação para ver o resultado.

O alarme seria dado na prisão, os soldados procurariam pelas ruas, e Pedro bem logo estaria de volta por trás dos portões de ferro.

E é exatamente o que vai acontecer a esse tipo de homem.

Quando Deus tiver feito o impossível para você, ele espera que você pense e raciocine por si e corra para um lugar seguro.

Essa é a única maneira de evitar a apostasia, o retrocesso; de evitar esses lamentáveis altos e baixos na vida cristã.

Isso é para reconhecer que o miraculoso avança até certo ponto, e então nos deixa como seres capacitados por Deus.

 

Adaptado do livro: Lloyd-Jones, Martin. O Cristão em uma era de terror: sermões inéditos, pregados no contexto da Segunda Guerra Mundial até a Guerra Fria (Portuguese Edition) (p. 65). Edição do Kindle.

 

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