Introdução:
Segundo do
dicionário Michaelis: “Querer algo cuja concretização atenda a uma
necessidade intelectual ou de outra natureza; ambicionar”.
Quando há o desejo
no coração de alguém, então significa que essa pessoa gostaria que isso fosse
concretizado. Não há como alguém desejar algo que não gostaria que se
concretizasse. Se desejo, eu quero; se não quero, logo não desejo.
Desenvolvimento:
Entendo que nem todo
desejo seja mal. Podemos desejar coisas boas e legítimas. Desejar passar em
concurso, desejar ter dinheiro, desejar comprar um carro. Estes desejos não são
errados em si.
O desejo pecaminoso
é aquele atraído por coisas que são contrárias à Lei de Deus. Desejar o erro no
coração, mesmo que não seja concretizado, constitui-se pecado.
Do coração nascem os
desejos e, sabemos que ele é “desesperadamente corrupto” (Jr 17:9). O
que esperar, então, das intenções que nascem de nosso coração?
O que as escrituras
nos ensinam é o pecado ser concebido no coração. Tg 1:15 “Então, a
cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez
consumado, gera a morte”.
A cobiça é um pecado
intrinsecamente ligado a um desejo do coração.
Cobiça: Desejo,
anelo, anseio, desejo pelo que é proibido, luxúria[1]
A cobiça é a
tentativa de satisfazer um desejo fora da vontade de Deus.
Sl 7.14 |Eis que o ímpio está com
dores de iniquidade; concebeu a malícia e dá à luz a mentira.
Jó 15.35 |Concebem a malícia e dão à
luz a iniquidade, pois o seu coração só prepara enganos.
Is 59.4 | Ninguém há que clame
pela justiça, ninguém que compareça em juízo pela verdade; confiam no que é
nulo e andam falando mentiras; concebem o mal e dão à luz a iniquidade.
Estes textos nos
mostram que uma vez desejado no coração, o pecado já foi concebido. Já existe
no coração, mas não foi ainda exercitado. Percebemos que o ato após o desejo
será apenas uma consequência daquilo que foi concebido no coração. Para que
algo aconteça precisa nascer primeiro e, após nascer, ele já tem existência.
Desejos pecaminosos
terminam por moldar nossas condutas. Não deve existir cristão que possua em seu
coração esses desejos. Isso vai conduzir suas ações e até seu modo de
falar. Mt 12: 34–35 “Raça de víboras, como podeis falar
coisas boas, sendo maus? Porque a boca fala do que está cheio o coração. O
homem bom tira do tesouro bom coisas boas; mas o homem mau do mau tesouro tira
coisas más”.
Mt 15: 18-20 “Mas o
que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem. Porque do
coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos,
falsos testemunhos, blasfêmias. São estas as coisas que contaminam o homem;
mas o comer sem lavar as mãos não o contamina”.
Se do coração nascem
os maus desígnios, então o verdadeiro cristão não pode ter seus desejos como um
nascedouro de pecados. O cristão deve ter, não apenas uma vida exterior
exemplar, mais que isso, ele precisa ter um coração exemplar.
Fp 4:8 “Finalmente,
irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo,
tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma
virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.”
Vejamos o que Cristo
nos ensina sobre o adultério. Mt 5:28 “Mas eu lhes digo: Qualquer que
olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu
coração”. (NVI)
Esse texto nos
mostra o pecado do desejo errado. Cristo nos deixa bem claro que apenas o fato
de desejar, já houve o adultério. O pecado foi concebido e consumado no
coração.
Mt 15:19 “E, se
um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o; é melhor entrares no reino de
Deus com um só dos teus olhos do que, tendo os dois seres lançado no inferno.”
O que Cristo nos
mostra em Mt. 15:19 é que nossos olhos podem nos mandar para o inferno. E qual
é o pecado que vem dos olhos? O desejo! Sim, ficar olhando e desejando poderá e
levará muitas pessoas ao inferno.
O Catecismo Maior de
Westminster, em sua pergunta 139, nos diz:
139. Quais são os
pecados proibidos no sétimo mandamento?
Os pecados proibidos
no sétimo mandamento, além da negligência dos deveres exigidos, são: adultério,
fornicação, rapto, incesto, sodomia e todas as concupiscências
desnaturais; todas as imaginações, pensamentos, propósitos e afetos
impuros; todas as comunicações corruptas ou torpes, ou o ouvir as
mesmas; os olhares lascivos, o comportamento impudente ou
leviano; o vestuário imoderado; a proibição de casamentos lícitos e a permissão
de casamentos ilícitos; o permitir, tolerar ou ter bordéis e a frequentação
deles; os votos embaraçadores de celibato; a demora indevida de casamento; o
ter mais que uma mulher ou mais que um marido ao mesmo tempo; o divórcio ou o
abandono injusto; a ociosidade, a glutonaria, a bebedice, a sociedade impura;
cânticos, livros, gravuras, danças, espetáculos lascivos e as demais
provocações à impureza, ou atos de impureza, quer em nós mesmos, quer nos
outros.
Conclusão:
Portanto, creio que
os desejos pecaminosos são pecados. Nem todo desejo é pecaminoso e nem todo
pecado é desejado. Por exemplo: alguém pode planejar uma mentira para dar uma
desculpa por faltar o serviço, mas essa pessoa prefere não ter que dá-la.
Prefere que ninguém pergunte a ela o motivo da ausência. Então, nesse caso,
entendo não haver o desejo do pecado, mas a preparação para o pecado.
Nesse pensamento,
concluo que desejar a morte de alguém constitua pecado. Desejos homossexuais
por alguém especificamente é pecado. O desejo de furto torna-se cobiça.
Todos nós até
podemos ser tentados pelos mais diversos tipos de pecados. Porém, essas
tentações ou tendências não nos dá o direito de desejar o pecado. O desejo é o
pecado concebido no coração.
O peixe
abocanha o anzol e passa a nadar com ele no corpo. Ainda está na água, mas
fisgado pelo anzol.[2]
[1] James
Strong, Léxico Hebraico,
Aramaico e Grego de Strong (Sociedade Bíblica do Brasil, 2002).
[2] Fritz
Grünzweig, Comentário
Esperança, Carta de Tiago (Curitiba: Editora Evangélica
Esperança, 2008), 40.
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