1 Obedeçam às autoridades, todos vocês.
Pois nenhuma autoridade existe sem a permissão de Deus, e as que existem foram
colocadas nos seus lugares por ele. 2Assim quem se
revolta contra as autoridades está se revoltando contra o que Deus ordenou, e
os que agem desse modo serão condenados. 3Somente os que
fazem o mal devem ter medo dos governantes, e não os que fazem o bem. Se você
não quiser ter medo das autoridades, então faça o que é bom, e elas o
elogiarão. 4Porque as autoridades estão a serviço de
Deus para o bem de você. Mas, se você faz o mal, então tenha medo, pois as
autoridades, de fato, têm poder para castigar. Elas estão a serviço de Deus e
trazem o castigo dele sobre os que fazem o mal. 5É por
isso que você deve obedecer às autoridades; não somente por causa do castigo de
Deus, mas também porque a sua consciência manda que você faça isso.6 É
por isso também que vocês pagam impostos. Pois, quando as autoridades cumprem
os seus deveres, elas estão a serviço de Deus.7 Portanto,
paguem ao governo o que é devido. Paguem todos os seus impostos e respeitem e
honrem todas as autoridades.[1]
É dever de cada
cristão, aliás, de cada pessoa, sujeitar-se às autoridades: Todo homem
esteja sujeito às autoridades superiores (v. 1a).
Somos chamados a nos
sujeitar às autoridades em cada fase da vida. Durante nossa juventude, estamos
sob a autoridade de nossos pais. Na escola, estamos sob a autoridade do diretor
e de professores. Após obter carteira de motorista, estamos sob a autoridade da
fiscalização municipal e do governo federal.
O chamado universal
para nos sujeitarmos às autoridades toca na raiz da nossa corrupção. Todos
somos pecadores, e cada pecado é um ato de revolta contra a autoridade. Se
respeitássemos a autoridade de Deus perfeitamente, nunca pecaríamos. Pecado é a
recusa em nos submetermos à autoridade do governo do próprio Deus, e Deus sabe
disso a nosso respeito. Se não estamos dispostos a nos submeter a Deus, será
mais difícil a submissão à polícia, ao governo e às demais autoridades que nos
regem. É dever de cada cristão estar sujeito às autoridades.
Do ponto de vista
teológico, o princípio é o da obediência civil. Somos chamados a ser
extraordinários modelos de obediência civil. Devemos nos esforçar para sermos
submissos às autoridades. Ao longo de toda a história redentora, houve grandes
modelos de obediência civil, tanto homens como mulheres.
Jesus nasceu em
Belém, como Miqueias havia profetizado (Mq 5.2). Ocorreram certos eventos que
levaram Maria e José a estarem no local profetizado para o nascimento:
“Naqueles dias, foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a
população do império para recensear-se. Este, o primeiro recenseamento, foi
feito quando Quirino era governador da Síria. Todos iam alistar-se, cada um à
sua própria cidade” (Lc 2.1–3). Todas as pessoas foram obrigadas a se
registrarem para que fossem tributadas por um império conquistador, império
esse que sequer levava em conta os gastos das pessoas para o recenseamento. O
censo obrigava todos a fazerem uma árdua jornada à sua terra natal para
inscreverem-se para a tributação, percurso que Maria e José fizeram. Eles arriscaram
suas vidas e a do nascituro em obediência ao magistrado civil. Esse é um
exemplo de santidade.
Justino Mártir,
apologista do século 2º, que fez uma defesa da fé para o imperador Antonino
Pio, argumentou que o imperador deveria examinar a vida dos cristãos para ver
que, acima de todos os outros cidadãos do império, eles eram os mais
meticulosos no pagamento dos impostos em obediência ao magistrado civil. Ao
longo de todo o Novo Testamento encontramos esse importante tema da obediência
civil.
Quando desobedecer
Devemos sempre
obedecer aos magistrados? Quando o Sinédrio disse aos apóstolos que não mais
pregassem em nome de Jesus, Pedro respondeu:
“Antes, importa
obedecer a Deus do que a homens” (At 5.29). Conflitos surgem quando o magistrado civil ordena ou
proíbe algo que vai contra os mandamentos de Deus. Em tais casos, você não só
pode como deve desobedecer ao magistrado civil. Devemos sempre e em toda parte
obedecer às autoridades sobre nós – chefe, governador, seja qual for a
autoridade –, exceto quando a autoridade nos ordena fazer algo que Deus proíbe
ou quando nos proíbe de fazer algo que Deus ordena. Às vezes devemos
desobedecer. Se o magistrado civil nos chama a pecar, devemos dizer não. A
História está repleta de exemplos de governantes que ordenaram que seus
cidadãos praticassem o mal. Isso pode acontecer em qualquer país, até mesmo no
nosso.
As mulheres me
perguntam sobre submissão ao marido: “Tento ser submissa ao meu marido, mas ele
não deixa que eu vá à igreja. O que devo fazer?”. Digo para desobedecerem ao
marido nesse ponto porque Deus nos ordena a não deixarmos de congregar.
O princípio é fácil;
a aplicação é difícil. Não estamos livres, contudo, para desobedecer ao
magistrado civil quando discordamos dele ou quando as autoridades nos fazem
sofrer ou passar inconvenientes. É irônico que essa passagem-chave sobre
obediência civil tenha sido escrita para os cristãos em Roma, que estavam sob a
pesada mão do império romano.
Toda a autoridade
pertence a Deus
Paulo então dá a
base teológica para a ética: porque não há autoridade que não proceda
de Deus (v. 1b). Num sentido final, o único que possui autoridade
inerente é o próprio Deus, e a autoridade que possui é o eterno direito de
impor obrigações sobre suas criaturas. Deus tem autoridade em si para ordenar
nossa obediência e submissão a ele. “Foi ele quem nos fez, e dele somos” (Sl.
100.3). A autoridade de Deus repousa no fato de ser ele o criador e dono de
todo o mundo. Qualquer outra autoridade que conheçamos não é intrínseca, mas
extrínseca, delegada por Deus.
O apóstolo Pedro
ecoa a mesma mensagem de Paulo: “Sujeitai-vos a toda instituição humana
por causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como
enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que
praticam o bem” (1Pe 2.13–14). Nossa submissão à polícia, ao governo,
e aos legisladores tem honrado a Deus? Senti-me frustrado ao buscar cumprir as
restrições de zoneamento para construir um templo, mas em nossa igreja fizemos
meticulosamente tudo que foi exigido, para que Cristo pudesse ser honrado.
Jesus é honrado pela
nossa submissão às autoridades, ainda que elas sejam corruptas? O universo não
está estruturado como uma democracia. Ele é uma teocracia. O governador do
universo é Deus, e ele designou seu Filho unigênito como o Rei dos reis e Senhor
dos senhores. O Pai deu ao Filho toda a autoridade no céu e na terra. Quando
morrer, o presidente dos Estados Unidos comparecerá perante Jesus Cristo e
prestará contas de como cumpriu seu ofício. O Senado, a Câmara dos Deputados,
com todas as suas autoridades, responderão ao Rei dos reis sobre como
executaram a justiça em seus afazeres. O rei da Inglaterra e o presidente da
China prestarão contas ao Rei dos reis. Muitas vezes, ignoramos que no cerne da
mensagem bíblica está uma mensagem política. Vivemos num reino onde a suprema
autoridade política está investida em Jesus Cristo.
Quando nos rebelamos
contra autoridades menores, estamos desobedecendo àqueles cuja autoridade têm
Cristo como base, porque de Cristo a receberam e por meio dele a manifestam. O
presidente dos Estados Unidos não pode exercer seu ofício por cinco minutos se
isso não for da vontade do Rei dos reis. É o Deus da providência quem exalta e
derruba os reinos. Cada rei na História do mundo governa e tem governado tão
somente pela vontade providencial de Deus. Ele dá o voto final em cada eleição.
As autoridades que
existem foram por ele instituídas (v. 1c). Toda autoridade é estabelecida, em última análise, não por
referendo ou voto democrático, mas pelo simples desígnio do supremo governante
do céu e da terra; toda autoridade é instituída por Deus. Paulo está deixando
claro que Deus instituiu as autoridades romanas. Gostaria de saber se Paulo,
quando sua vida estava prestes a findar pela espada, lamentou o dia em que
escreveu essas palavras. Ele enfrentou uma execução forjada e injusta por
decreto de Nero. Muito provavelmente, quando pôs a cabeça sobre o tronco, seu
último pensamento foi que a autoridade de Nero para executá-lo vinha, em última
instância, de Deus, e por isso morreu de bom grado.
Podemos olhar tais
autoridades do passado e ver a autoridade que nelas havia? “Não fará Deus
justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite?” (Lc 18.7). Deus não
vai ajustar a balança da justiça? Deus vê quando somos vítimas de governos
injustos e demoníacos que fazem tudo menos trabalhar para a glória e honra de
Cristo. Nosso Senhor irá vindicar seu povo que busca ser fiel a ele a despeito
da injustiça que lhe sobrevêm por parte de autoridades terrenas.
Vivendo debaixo de
autoridade
De modo que aquele
que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus (v. 2a). No século XVIII, os
cristãos lutaram sobre se deveriam pegar em armas contra o governo britânico e
declarar sua independência. Um dos debates mais acalorados da história cristã
foi sobre como entender Romanos 13 à luz da Guerra de Independência Americana.
Os colonos estavam lutando pela manutenção de seu sistema de governo, que o
parlamento da Inglaterra queria mudar. Os colonos decidiram que a lei comum
britânica lhes dava o direito de resistir. Essa era uma situação bem
complicada, que estudiosos cristãos debatem ainda hoje, e a razão para o debate
é essa passagem de Romanos 13. Quem resiste à autoridade resiste à ordenação de
Deus, e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação (v.
2b). Esse é um prudente alerta. Se resistirmos às autoridades que Deus
designou, podemos até ser considerados heróis por alguns, mas podemos ter
certeza de que Deus virá em juízo.[2]
[1]
Sociedade Bíblica do Brasil, Nova Tradução na
Linguagem de Hoje (Sociedade Bíblica do Brasil, 2000), Rm
13.1–7.
[2] R.
C. Sproul, Estudos Bíblicos
Expositivos em Romanos, trans. Heloisa Cavallari, Márcio Santana
Sobrinho, e Mary Lane, 1a edição., Estudos Bíblicos Expositivos (São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2011), 400–403.
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