O uso do véu nas
igrejas
1 Co 11:5-6
“Toda mulher, porém, que ora ou
profetiza com a cabeça sem véu desonra a sua própria cabeça, porque é como se a
tivesse rapada. Portanto, se a mulher não usa véu, nesse caso, que rape o
cabelo. Mas, se lhe é vergonhoso o tosquiar-se ou rapar-se, cumpre-lhe usar véu”.
Homens e mulheres
são iguais perante Deus. Isso torna-se evidente quando Paulo atribui as funções
religiosas de orar e profetizar a ambos, homem e mulher. Tanto homens como
mulheres sabem que profetizar consiste em ensinar e pregar a revelação de Deus
ou exortar e aconselhar outros pelas Escrituras (ver At 18.26).
As mulheres cristãs
de Corinto queriam abolir o uso do véu no culto. O véu era um símbolo da
submissão e da integridade da mulher. Elas, porém, não concordavam com esta
"submissão".
Paulo diz que o
homem é cabeça da mulher, que no círculo da família significa que o marido é o
cabeça da esposa. Se a mulher de Corinto põe de lado o pano com que cobre a
cabeça em público, ela nesse gesto renuncia à subordinação a seu marido. Ela se
apropria da autoridade que pertence a seu marido. Quando na igreja de Corinto
uma mulher vai contra a estrutura da criação, ela desonra seu marido.
No tempo de Paulo,
uma mulher devia cobrir sua cabeça. Se ela deixasse de fazer isso, ela
desonrava não só sua própria cabeça, mas também mostrava desrespeito a seu
marido. Ela deveria ter respeitado o esposo usando algo para cobrir sua cabeça
em público.
Uma mulher em
Corinto participando do culto público sem véu seria o mesmo que uma mulher
chegar hoje num culto com trajes de banho. Isso provocaria escândalo e seria
absolutamente inconveniente.
Paulo orienta as
mulheres dentro desse contexto cultural a usarem o véu também na igreja. Elas
não deviam dar motivo para as pessoas suspeitarem da sua honra ou da sua
submissão ao marido. Ao cobrir a cabeça, a mulher assegurava o seu lugar de
dignidade e subordinação ao marido. Por isso, Paulo recomendou o uso do véu
para a mulher no culto público. Devemos ser sensíveis à cultura em que vivemos
para não criarmos obstáculo ao evangelho.
O véu é um símbolo.
Transportando para nossa cultura esse costume, Paulo mostraria às mulheres a
necessidade de elas se trajarem com decência para irem ao culto público na
igreja. A maneira da mulher apresentar-se e trajar-se não deve criar escândalo
nem trazer desconforto para os membros da congregação.
Uma mulher ter a
cabeça rapada era e ainda é um sinal vergonhoso e humilhante. O autor romano do
século 1°, Dio Chrysostomo, menciona que, na ilha de Chipre, uma mulher que
cometeu adultério teve o cabelo tosado pelas autoridades para que fosse
identificada como prostituta. A mensagem que Paulo transmite às mulheres
coríntias é que devem honrar o marido observando os padrões culturais de sua
época.
A ênfase na última
parte desse versículo está na palavra vergonhoso. Paulo coloca
a esposa na posição desconfortável de ter de fazer uma escolha: se ela quer
sair sem véu em público, que sua cabeça seja rapada e faça companhia às
mulheres de má fama; se ela faz objeção a ser tosada e ter a cabeça rapada, que
ela use um véu e se associe com mulheres respeitáveis. Note que quem tem de
tomar a decisão é a mulher, e não o marido. E a decisão é uma questão de sua
disposição para ter um relacionamento submisso com seu marido “pela ordenança
da criação”.
Os padrões culturais
diferem de um país para outro, e mudam no decorrer do tempo. Quando
consideramos estilos de penteados e materiais para cobrir a cabeça, as
variações são especialmente interessantes. O cabelo pode ser longo ou curto, e
em muitas culturas o que cobre a cabeça é relacionado a observâncias religiosas
(por ex., no Judaísmo, no Islã e em alguns ramos do Cristianismo).
Na Igreja Cristã, a
cobertura da cabeça era considerada uma necessidade em climas mais frios.
Durante a Reforma, João Calvino e seus colegas usavam solidéus para se
protegerem do frio. Mas será que usariam esse solidéu durante um culto ou
seguiriam a prescrição de não orar, ou profetizar com a cabeça coberta? Calvino
escreve:
Pois não devemos ser
tão presos por consciência a princípios, a ponto de pensar que um mestre está
fazendo algo errado por usar um solidéu em sua cabeça quando fala do púlpito ao
povo. Mas tudo o que Paulo busca é que fique claro que o homem está em autoridade,
e que a mulher está em sujeição a ele, e isso é feito quando o homem descobre
sua cabeça à vista da congregação, mesmo se põe o solidéu de novo depois para
não pegar um resfriado.
Dois séculos mais
tarde, em 1741, o comentarista alemão do Novo Testamento, John Albert Bengel,
teve de enfrentar uma evolução cultural diferente. O que pensar das perucas?
Ele comenta que as perucas são substitutos para cabelos que são finos demais. “Portanto,
a cabeça de um homem dificilmente pode ser mais desonrada por elas, enquanto
ele ora, do que enquanto ele não ora.” Mas Bengel é de opinião que, se
ele pudesse perguntar a Paulo, o apóstolo iria persuadir as pessoas a não
usarem perucas porque “as perucas são inconvenientes para os homens,
especialmente àqueles que oram”.
Durante a primeira
metade do século XX, as mulheres aderiram ao costume de usar chapéus na igreja.
Mas na segunda metade deste século, aquelas que ornam sua cabeça com chapéus em
igrejas cristãs são bem poucas.
Como aplicamos no
dia de hoje as palavras de Paulo sobre o uso de algo que cobre a cabeça, ou a
falta dele? Será que Paulo está refletindo padrões culturais de seu tempo na
igreja de Corinto e outros lugares (v. 16), padrões que não estão mais na moda?
E será que padrões culturais que são sujeitos a mudança realmente são
indicadores de princípios básicos e duradouros?
Paulo proclama o
evangelho de Cristo que liberta as pessoas das leis civis e cerimoniais
judaicas. Ele rejeita a ideia de pedir aos gentios que adotem costumes judaicos
como um passo para se tornar cristãos (Gl 5.1–6). Similarmente, Paulo não
pretende dizer aos crentes em toda parte através dos séculos que adotem os
costumes que ele quer que os cristãos coríntios sigam. O que ele enfatiza nesse
segmento é que no relacionamento do casamento a esposa deve honrar e respeitar
seu marido e o marido deve amar e guiar sua esposa. Este é o princípio básico
que pode ser aplicado de maneiras diversas pelas variadas culturas através do
mundo. O princípio permanece o mesmo, ainda quando sua aplicação possa variar.
Ou seja, hoje ainda o marido é o cabeça, porém, em nossa cultura, o véu não
representa mais essa submissão.
Referências
bibliográficas:
Simon Kistemaker, 1 Coríntios,
trans. Helen Hope Gordon Silva, 2a edição., Comentário do Novo
Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2014), 342.
Hernandes Dias Lopes, 1Coríntios: Como
Resolver Conflitos na Igreja, 1a edição., Comentários
Expositivos Hagnos (São Paulo: Hagnos, 2008), 206.
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