As passagens do Novo
Testamento, que descrevem a grande tribulação, não indicam que a igreja será
removida da terra antes que a tribulação comece.
No Sermão Profético,
Jesus fala da tribulação como um sinal dos tempos, que deve ser esperado por
seu povo ao longo do período entre sua primeira e segunda vinda. Assim, por
exemplo, ele diz em Mateus 24.9-10: “Então, sereis atribulados, e vos
matarão. Sereis odiados de todas as nações, por causa do meu nome. Nesse tempo,
muitos hão de se escandalizar, trair e odiar uns aos outros”. Uma vez
que no contexto imediato (v. 14) Jesus prediz que o evangelho do reino será
pregado por todo o mundo – uma pregação que continuará até o fim –, é óbvio que
a tribulação mencionada não é limitada ao povo judeu. Se na mesma fala Jesus
diz que o evangelho será pregado a todos, então conclui-se que a tribulação
atingirá a todos.
Encontramos Jesus
falando no Sermão Profético acerca de uma tribulação final que está reservada
para o seu povo –, uma tribulação da qual os sofrimentos que acompanhariam a
destruição de Jerusalém seriam apenas uma antecipação. Observe a intensidade da
seguinte descrição: “porque nesse tempo haverá grande tribulação
(thlipsis megalō), como desde o princípio do mundo até agora não tem havido,
nem haverá jamais. Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria
salvo; mas, por causa dos escolhidos, tais dias serão abreviados” (Mt
24.21-22). Embora o cenário dessas palavras tenha um colorido distintivamente
judeu e da Judeia (“Orai para que a vossa fuga não se dê no inverno,
nem no sábado)” as palavras “Não têm havido, e nem haverá
jamais” e a referência ao abreviamento dos dias por causa dos eleitos
indicam que Jesus está predizendo uma tribulação tão grande que superará
qualquer tribulação que a possa preceder. Em outras palavras, Jesus está aqui
olhando para além da tribulação reservada para os judeus na época da destruição
de Jerusalém, para uma tribulação final que ocorrerá no fim desta era. Pois
segundo os versículos 29 e 30, Jesus prossegue indicando que essa “grande
tribulação” precederá imediatamente a sua segunda vinda: logo em seguida à
tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as
estrelas cairão do firmamento e os poderes dos céus serão abalados. Então,
aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se
lamentarão e verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e
muita glória (Mt 24.29-30). Concluímos que o sinal da tribulação não é
restrito ao tempo do fim, mas caracteriza a era entre as duas vindas de Cristo.
Pela oposição continuada do mundo ao reino de Deus, os cristãos devem esperar
sofrer tribulações e perseguição de uma ou outra espécie durante esse período.
Com base nas palavras de Jesus em Mateus 24.21-30, entretanto, parece-nos que
haverá também uma tribulação final e culminante imediatamente antes de Cristo
retornar. Essa tribulação não será diferente de tribulações anteriores, que o
povo de Deus teve de sofrer, mas será uma forma intensificada dessas mesmas
tribulações.
Nas palavras de
Jesus, não encontramos indicação de que a grande tribulação que ele prediz será
restrita aos judeus, nem que os cristãos gentios ou a igreja, em distinção aos
judeus, não terão de passar por ela. Essa posição, geralmente ensinada por Dispensacionalistas,
não tem base nas Escrituras. Pois se a tribulação, conforme acabamos de ver,
deve ser suportada por cristãos ao longo de toda esta era, que razões há para
restringir a tribulação final aos judeus? Que razão há para restringir o número
de eleitos aos judeus, se os dias da tribulação final serão abreviados por
causa de todos os eleitos (Mt 24.22)?
O povo de Deus terá
de sofrer tribulação ao longo desta era; quando a forma final e intensificada
dessa tribulação vai acontecer, é difícil dizer. Talvez, para alguns cristãos
que vivem hoje no mundo, a Grande Tribulação já tenha começado. William Hendriksen
lembra que a Grande Tribulação pode não vir sobre todo o mundo ao mesmo tempo,
mas ela já pode estar sendo experimentada por cristãos perseguidos por causa de
sua fé em países controlados por governos anticristãos.
O arrebatamento
descrito em Mateus 24 é subsequente à descida do Senhor na sua segunda vinda
“final”: “e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com
poder e muita glória. E ele enviará os seus anjos”, e assim por diante
(v. 30-31). Aqui não há nenhum sinal de arrebatamento pré-tribulacionista; de
fato, o arrebatamento está descrito como vindo após a grande tribulação (ver v.
29).
Já vimos que a
descrição que Paulo faz da manifestação do homem da iniquidade em
2Tessalonicenses 2, implica que o surgimento desse homem provocará grande
perseguição e tribulação para o povo de Deus. O propósito de Paulo, nesse
capítulo, é advertir seus leitores, alguns dos quais pensavam que o Dia do
Senhor já tivesse vindo (v. 2); adverti-los de que aquele dia não virá sem que,
primeiramente, seja revelado o homem da iniquidade, com a tribulação que
acompanhará sua manifestação. Se os crentes poderiam ser removidos da terra
antes da tribulação, o que Paulo pretendia com essa advertência?
De fato, as palavras
de abertura de 2Tessalonicenses 2 indicam claramente que os eventos descritos
nesse capítulo, que incluem a manifestação do anticristo e a grande tribulação,
precederão o arrebatamento da igreja: no que diz respeito à vinda de
nosso Senhor Jesus Cristo e a nossa reunião com ele, nós vos pedimos, irmãos,
que não vos deixeis ficar inseguros ou alarmados por alguma profecia (...)
dizendo que o Dia do Senhor já tenha vindo. Não deixeis que alguém vos engane,
porque aquele dia não virá até que tenha acontecido a apostasia e o homem da
iniquidade seja revelado (v. 1-3, NIV). É interessante observar que a
palavra grega traduzida por “nossa reunião com ele” (episynagōgō), é a forma
substantiva do verbo utilizado para o arrebatamento em Mateus 24.31: “os
quais reunirão (episynagō) os seus escolhidos (...) de uma a outra
extremidade dos céus”. Fica claro que o arrebatamento da igreja,
conforme descrito nessa passagem, não precede, mas sucede à grande tribulação.
A principal passagem
do Novo Testamento, que descreve o arrebatamento, não ensina um arrebatamento
pré-tribulacionista. Passamos agora à passagem de 1Tessalonicenses 4.16-17:
Porquanto o Senhor
mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a
trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão
primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados
juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e assim
estaremos para sempre com o Senhor.
O que essa passagem
ensina claramente é que, na hora da volta de Cristo, todos os crentes mortos
(os “mortos em Cristo”) serão ressuscitados, e todos os crentes que ainda
estiverem vivos serão transformados e glorificados (ver 1Co 15.51-52); então
esses dois grupos serão levantados rapidamente para encontrar o Senhor no ar. O
que essas palavras não ensinam é que, após esse encontro nos ares, o Senhor
inverterá sua direção e voltará para os céus, levando com ele os membros da
igreja ressuscitados e transformados. A passagem não diz nada sobre isso. Para
dar certeza, o versículo 17 termina com estas palavras: “e assim estaremos para
sempre com o Senhor”. Porém, Paulo não diz onde estaremos para sempre com o
Senhor. A ideia de que, após termos encontrado o Senhor nos ares, estaremos com
ele por sete anos no céu e, mais tarde, por mil anos nos ares acima da terra, é
pura inferência e nada mais. O ensino claro dessa passagem é uma unidade eterna
com Cristo em glória, não um arrebatamento antes da tribulação. Tudo o que
Paulo está dizendo aqui é que os crentes ressuscitados e os transformados são
elevados às nuvens para encontrar o Senhor, enquanto ele desce do céu,
implicando que após esse alegre encontro eles voltarão com ele para a terra.
Assim como as
virgens, depois disso, foram com o noivo a caminho das bodas, os crentes
ressurretos e os transformados, após terem-se encontrado com o Senhor nos ares,
permanecerão com o Senhor, enquanto ele continua seu caminho para a terra. A
figura das bodas implica comunhão feliz e amorosa. Por que se deveria presumir
que essa comunhão só pode acontecer no céu? O lugar dos corpos ressurretos e
glorificados dos crentes não é no céu, mas sobre a terra. Portanto, não é no
céu, mas na nova terra que a festa do casamento de Cristo e seu povo redimido
acontecerá.
Nenhum argumento,
para a vinda em duas etapas, pode ser extraído do ensino de que a grande
tribulação será um derramamento da ira de Deus sobre o mundo.
É verdade, a igreja
nunca será objeto da ira de Deus, uma vez que Cristo sofreu a ira de Deus por
seu povo quando foi crucificado. Mas esse fato não implica, necessariamente,
que a igreja não possa estar na terra quando a ira de Deus for derramada durante
a tribulação. Por exemplo, devemos lembrar que, quando Deus visitou com sua ira
os egípcios na época das dez pragas, o povo de Deus, embora vivesse na terra,
foi guardado dos males infligidos aos egípcios. Além disso, no capítulo 7 do
livro de Apocalipse lemos acerca dos servos de Deus que serão selados em suas
frontes (v. 3), a fim de que a ira de Deus não caia sobre eles (cap. 9.4)
durante o tempo em que essa ira estiver caindo sobre outros.
Todavia, algo mais
precisa ser dito. A proteção da ira de Deus não implica libertação da ira do
homem. Conforme vimos, a igreja terá continuamente de sofrer tribulação;
consideremos as palavras de Jesus em Mateus 24.9, falando de seu povo ao longo
de toda a era atual: “Então, sereis atribulados, e vos matarão. Sereis
odiados de todas as nações, por causa do meu nome”. Se a tribulação é
um dos sinais dos tempos, que razão haveria para que a igreja não estivesse na
terra durante a fase final da tribulação? Em 2Tessalonicenses 1.6-8, Paulo
indica que a volta de Cristo significará libertação da tribulação para a sua
igreja e para o seu povo: Se, de fato, é justo para com Deus que ele dê
em paga tribulação aos que vos atribulam e a vós outros, que sois atribulados,
alívio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os
anjos do seu poder, em chama de fogo, tomando vingança contra os que não
conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho do nosso Senhor
Jesus.
Concluímos,
portanto, que não há base nas Escrituras para se conceber a segunda vinda em
duas etapas, como os pré-tribulacionistas ensinam. A segunda vinda de Cristo
deve ser considerada um evento único, que ocorre após a grande tribulação.
Quando Cristo voltar, haverá uma ressurreição geral, tanto de crentes como de
incrédulos. Após a ressurreição, os crentes que ainda estiverem vivos deverão
ser transformados e glorificados (1Co 15.51-52). Então acontece o
“arrebatamento” de todos os crentes. Os crentes que forem ressuscitados, com os
crentes vivos que forem transformados, são agora elevados rapidamente para as
nuvens, para se encontrarem com o Senhor nos ares (1Ts 4.16-17). Após esse
encontro nos ares, a igreja arrebatada continua com Cristo enquanto ele
completa sua descida à terra.
Cinco Razões Para
Rejeitar o Arrebatamento Secreto
1. O
Vocabulário do Segundo Advento.
A primeira razão
para rejeitar um arrebatamento secreto que antecede à tribulação é o fato de
que o vocabulário do Segundo Advento não oferece respaldo para tal ponto de
vista. Nenhuma das três palavras gregas usadas no Novo Testamento para
descrever o Retorno de Cristo, ou
seja, parousia-vinda, apokalypsis-revelação,
e epiphaneia-aparecimento, sugere um arrebatamento secreto
pré-tribulacional como objeto da esperança cristã no Advento.
2. Nenhum
Arrebatamento da Igreja.
Uma segunda razão
para rejeitar um arrebatamento pré-tribulacional secreto da Igreja é o fato de
que não há qualquer indício no Novo Testamento de um arrebatamento instantâneo
da Igreja. A descrição mais notória do Segundo Advento encontrada em 1 Tessalonicenses
4:15-17, sugere exatamente o oposto quando fala que o Senhor desce do céu “dada
a Sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus”
. . . “os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois nós, os vivos, os que
ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o
encontro do Senhor nos ares”.
3. Nenhuma
Remoção da Igreja da Grande Tribulação.
Uma terceira razão
para rejeitar a noção de um arrebatamento secreto pré-tribulacional da Igreja é
o fato de que tal noção não tem apoio das passagens que tratam da tribulação.
Por exemplo, em seu discurso no Monte das Oliveiras, Jesus fala da “grande tribulação”
que imediatamente precederá a Sua vinda e promete que “por causa dos escolhidos
tais dias serão abreviados” (Mat. 24:21-22, 29). Alegar que “os eleitos” são
apenas os crentes judeus, e não membros da Igreja, representa ignorar que
Cristo está se dirigindo a Seus apóstolos que representam não só o Israel
nacional, mas a Igreja em escala ampla. Isto é confirmado pelo fato de que
tanto Marcos quanto Lucas fazem referência ao mesmo discurso para a Igreja
gentílica (Marcos 13; Lucas 21).
4. Nenhum
Arrebatamento Pré-Tibulação nas Escrituras.
Por último, a noção
de um arrebatamento secreto pré-tribulacional é negada por Paulo e pelo livro
de Apocalipse. Em suas admoestações aos tessalonicenses, Paulo explica que os
crentes terão “alívio” da tribulação desta era presente “quando do céu se manifestar
o Senhor Jesus Cristo com os anjos do Seu poder, em chama de fogo, tomando
vingança contra os que não conhecem a Deus. . .” (2 Tess 1:7-8). Em outras
palavras, os crentes experimentarão libertação dos sofrimentos desta era, não
mediante um arrebatamento secreto, mas por ocasião da revelação
pós-tribulacional de Cristo.
5. Nenhum
Arrebatamento Pré-Tribulacional no Apocalipse.
O livro de
Apocalipse trata em maiores detalhes do que qualquer outro livro do Novo
Testamento dos eventos associados com a grande tribulação, tais como o soar das
sete trombetas, o aparecimento da besta que inflige uma terrível perseguição
sobre os santos de Deus, e o derramamento das sete últimas pragas (Apoc. 8 a
16). Conquanto João descreva em grande detalhe os eventos tribulacionais, ele
nunca menciona ou sugere um Advento de Cristo secreto e pré-tribulacional para
levar embora a Igreja. Isto surpreende muito, em vista de que o expresso
propósito de João é instruir as Igrejas com respeito aos eventos finais.
Fontes:
http://www.monergismo.com/textos/escatologia_reformada/arrebatamentosecreto_samuel.htm
Hoekema, Anthony A.. A Bíblia
e o futuro (p. 252). Editora Cultura Cristã. Edição do Kindle.
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