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Principais heresias combatidas nos primeiros séculos



PRINCIPAIS HERESIAS COMBATIDAS NOS PRIMEIROS SÉCULOS

 

Marcianismo

     Foi estabelecida por Marcião de Sinope (110-160), filho de um bispo. Propagou-se na Ásia Menor e na antiga Roma, em comunidades que se multiplicaram e constituíram uma vasta rede na bacia do Mediterrâneo. Foi considerada herética e Marcião excomungado em 144.

     De características gnósticas, tinha base no cristianismo ligado à tradição paulina. Simplificou as cerimónias dos primeiros cristãos, praticando uma moral severa, com interdição ao casamentojejuns rigorosos, preparação para o martírio e fraternidade austera.

     O seu corpo doutrinário partia da oposição entre Justiça e AmorLei e Evangelho. Rejeitava o Antigo Testamento como ultrapassado, anunciando um cristianismo autêntico baseado na contradição entre dois deuses.

     O Deus da Lei, o Demiurgo, que seria o deus do Velho Testamento; e o Deus do Amor, como revelado por Jesus Cristo.

     Marcião acreditava no mesmo dualismo que os gnósticos a respeito do mundo material, no sentido que a matéria é antagônica do bem e que, portanto, o deus criador do ser humano, o “demiurgo”, é limitado e mau, pelo que sua criação material também deveria ser má. Todavia, é importante ressaltarmos que Marcião não era gnóstico, embora certamente tenha tido contato com as ideias gnósticas. Pelo sistema de Marcião, o ser humano era criação do Deus da Lei, o deus do Velho Testamento judaico, severo e cheio de ira. Este Deus concedeu ao ser humano uma lei impossível de cumprir e, por isso, o ser humano viveria sob uma maldição.

Gnosticismo

     O Gnosticismo talvez fosse a heresia mais perigosa que ameaçava a igreja primitiva durante os primeiros três séculos. Influenciado por filósofos como Platão, o Gnosticismo é baseado em duas premissas falsas. Primeiro, essa teoria sustenta um dualismo em relação ao espírito e à matéria. Os gnósticos acreditam que a matéria seja essencialmente perversa e que o espírito seja bom. Como resultado dessa pressuposição, os gnósticos acreditam que qualquer coisa feita no corpo, até mesmo o pior dos pecados, não tem valor algum porque a vida verdadeira existe no reino espiritual apenas.

     Segundo os gnósticos acreditam que possuem um conhecimento elevado, uma “verdade superior”, conhecida apenas por poucos. O Gnosticismo se origina da palavra grega gnosis, a qual significa “saber”, pois os gnósticos acreditam que possuem um conhecimento mais elevado, não da Bíblia, mas um conhecimento adquirido por algum plano místico e superior de existência. Os gnósticos se enxergam como uma classe privilegiada e mais elevada sobre todas as outras devido ao seu conhecimento superior e mais profundo de Deus.

Docetismo

     Antecedente do gnosticismo, acreditavam que o corpo de Jesus Cristo era uma ilusão, e que sua crucificação teria sido apenas aparente. Não existiam "docetas" enquanto seita ou religião específica, mas como uma corrente de pensamento que atravessou diversos estratos da Igreja. O docetismo acreditava que Jesus Cristo era um espectro, logo, este apesar de ter uma aparência humana, não possuía carne e nem sangue.

     A origem do docetismo é geralmente atribuída a correntes gnósticas para quem o mundo material era mau e corrompido e que tentavam aliar, de forma racional, a Revelação disposta nas escrituras à filosofia grega. Esta doutrina viria a ser condenada como heresia no Concílio Ecumênico de Calcedônia.

Montanismo

     O montanismo foi um movimento cristão fundado por Montano por volta de 156-157 (ou 172), que se organizou e difundiu em comunidades na Ásia Menor, em Roma e no Norte de África. Por ter se originado na região da FrígiaEusébio de Cesareia relata em sua História Eclesiástica (V.14-16) que ela era chamada de "Heresia Frígia" na época.

     Montano afirmava possuir o dom da profecia, e que havia sido enviado por Jesus Cristo para inaugurar a era do Paráclito. Duas mulheres que o acompanhavam, Priscila (ou Prisca) e Maximila, afirmavam que o Espírito Santo falava através delas. Durante os seus êxtases anunciavam o fim iminente do mundo, conclamando os cristãos a reunirem-se na cidade de Pepusa, na Frígia, onde surgiria a Jerusalém celeste, uma vez que uma nova era cristã se iniciava com esta nova revelação divina.

     O seu adepto mais famoso foi Tertuliano (c. 170-212), um dos primeiros doutores da Igreja, autor de inúmeras obras em defesa da Cristandade. Em torno de 210, insatisfeito com o pensamento cristão e suas práticas, uniu-se ao montanismo, sendo considerado herético, embora não haja evidências concretas de que tenha fundado uma seita própria.

     O movimento caracterizou-se como uma volta ao profetismo, pretendendo revalorizar elementos esquecidos da mensagem cristã primitiva, sobretudo a esperança escatológica. Propunha um rigoroso ascetismo, visando à preparação para o momento final, preceituando-se a castidade durante o casamento e proibindo-se as segundas núpcias. No plano alimentar instituiu-se o jejum durante duas semanas por ano e a xerofagia (consumo de alimentos secos), sem o consumo de carne. Negavam a absolvição aos réus de pecados graves (mesmo após o batismo com confissão e arrependimento). As mulheres eram obrigadas ao uso de véu nas funções sagradas. Recomendava-se aos fiéis que não fugissem às perseguições e que se oferecessem voluntariamente ao martírio

Ascetismo

     O ascetismo ou asceticismo é uma filosofia de vida na qual se realizam certas práticas visando ao desenvolvimento espiritual. Muitas vezes, essas práticas consistem no refreamento dos prazeres mundanos e na austeridade.

     Aquelas que praticam um estilo de vida austero definem suas práticas como virtuosas e perseguem o objetivo de adquirir uma grande espiritualidade. Muitos ascéticos acreditam que a purificação resultante do corpo com a prática ascética ajuda a purificação da alma, a compreensão acerca de uma divindade ou a encontrar a paz interior. Tais objetivos também poderiam ser obtidos com a automortificaçãorituais, ou uma severa renúncia ao prazer. Ascéticos defendem que essas restrições autoimpostas trazem grande liberdade em várias áreas de suas vidas, tais como aumento das habilidades para pensar limpidamente e para resistir a potenciais impulsos destrutivos.

Sabelianismo

     No cristianismo, sabelianismo (também conhecido como monoteísmo modalista, patripassianismo, unicismo, monarquianismo modal ou modalismo) é a crença "unicista" de que Deus em sua unicidade se manifestou em carne e não em três pessoas distintas.

     O termo sabelianismo deriva-se de Sabélio, um bispo do século III d.C. e defensor da tese. 

     Os modalistas afirmam que o único número atribuído a Deus na Bíblia é "Um" e que não existe nenhuma trindade inerente atribuída a Deus explicitamente nas Escrituras. O número três nunca é mencionado na Bíblia com relação a três deuses, ou seja, "Deus pai, Deus filho e Deus Espirito Santo".

     O número três sempre aparece como manifestações da divindade, ou seja, Deus pai, o Filho de Deus (Único do gênero), e o Espírito Santo de Deus.

Maniqueísmo 

     O maniqueísmo é uma filosofia religiosa sincrética e dualística fundada e propagada por Manes ou Maniqueu, filósofo heresiarca do século III, que divide o mundo simplesmente entre Bom, ou Deus, e Mau, ou Diabo. A matéria é intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom. Com a popularização do termo, maniqueísta passou a ser um adjetivo usado para descrever todas as doutrinas fundamentadas nos dois princípios opostos do Bem e do Mal.

Arianismo

     O arianismo foi uma visão cristológica antitrinitária sustentada pelos seguidores de Ário, presbítero cristão de Alexandria nos primeiros tempos da Igreja primitiva, que negava a consubstancialidade entre Jesus e Deus Pai, que os igualasse.

     Jesus então, seria subordinado a Deus Pai, sendo Ele (Jesus) não o próprio Deus em si e por si. Segundo Ário, só existe um Deus e Jesus é seu filho e não o próprio Deus. Ao mesmo tempo, afirmava que Deus seria um grande eterno mistério, oculto em si, e que nenhuma criatura conseguiria revelá-lo, visto que Ele não pode revelar a si.

Nestorianismo

     O nestorianismo é uma doutrina cristológica proposta por NestórioPatriarca de Constantinopla (428–431). A doutrina, formada durante os estudos de Nestório sob Teodoro de Mopsuéstia na Escola de Antioquia, enfatiza a desunião entre as naturezas humana e divina de Jesus

     Acreditavam os seguidores desta doutrina que Jesus unia em si duas entidades: o Verbo e o Homem, sendo, porém, que as duas pessoas eram tão unidas que quase podiam ser encaradas como única entidade. Nestório, assim, atribuía a Cristo duas partes ou divisões, uma humana, outra divina. Quando Jesus realizava ações comuns a qualquer outro ser humano, era a parte humana que estava em evidência no momento, mas quando realizava os atos de natureza divina, acreditava ele que a parte divina estava em ação. A filosofia nestoriana também não reconhecia Maria como mãe de Deus (theotokos), ensinando que ela deu à luz um ser que foi o instrumento da divindade (christotokos), mas não a própria divindade.

Monofisismo

     Essa heresia surgiu como uma reação à heresia nestoriana, mas também não se manteve ortodoxa. O criador dessa heresia foi o arquimandrita Eutíquio de Constantinopla, que começou a pregar que não havia mais nada da natureza humana de Cristo depois da Encarnação: ela foi fundida e incorporada à natureza divina como uma gota de mel no oceano. Essa heresia nega que Jesus Cristo fosse plenamente humano e, portanto, impossibilita a santificação e a theosis de nossa natureza, que deve ser idêntica à natureza humana de Cristo. 

Adocionismo

     O Adocionismo, algumas vezes chamado de monarquianismo dinâmico, é uma visão teológica não trinitária do cristianismo primitivo, que professa que Jesus nasceu humano, tornando-se posteriormente divino por ocasião do seu batismo, ponto em que foi adotado como filho de Deus.

     Esta é uma das duas manifestações do monarquianismo; a outra é o modalismo (sabelianismo), que trata o "Pai" e o "Filho" como dois modos de uma mesma divindade. O adocionismo entende que Cristo, como Deus, foi feito Filho de Deus pela geração e pela natureza, mas Cristo, como homem, é o Filho de Deus apenas pela adoção e graça, dispensada no momento de seu batismo.

     Desse modo, nega a preexistência de Cristo e, embora afirme explicitamente sua divindade subsequente aos eventos de sua vida, muitos trinitaristas clássicos afirmam que a doutrina a nega implicitamente ao negar a constante união hipostática do Logos eterno com a natureza humana de Jesus.

     No adocionismo, Jesus é atualmente divino, circunstância que ocorre desde sua adoção, embora ele não seja igual ao Pai, pois "meu Pai é maior do que eu" (João 14,28) e, como tal, é uma espécie de subordinacionismo. Muitas adocionistas negavam o nascimento virginal de Jesus.

Donatismo

     O donatismo (cujo nome advém de Donato de Casa Nigra, bispo da Numídia e posteriormente de Cartago) foi um culto religioso cristão, considerada herética e cismática pelo catolicismo. Surgiu nas províncias do Norte de África na Antiguidade Tardia. Iniciou-se no início do século IV e foi extinta no final do século VII. Os autores que mais influenciaram os donatistas, em termos de doutrina religiosa, foram São Cipriano e Tertuliano.

     Assim como o novacianismo, fundado pelo antipapa Novaciano no século III, os donatistas sustentavam que a Igreja não devia perdoar e admitir pecadores, e que os sacramentos, como o batismo, administrados pelos traditores (cristãos que negaram sua fé durante a perseguição de Diocleciano de 303 d.C. a 305 d.C. e posteriormente foram perdoados e readmitidos na Igreja) eram inválidos.

Pelagianismo

     O pelagianismo foi um conceito teológico que negava o pecado original, a corrupção da natureza humana, o servo arbítrio (arbítrio escravizado, cativo) e a necessidade da graça divina para a salvação. O termo é derivado do nome de Pelágio da Bretanha

     Todo homem é totalmente responsável pela sua própria salvação e portanto, não necessita da graça divina. Segundo os pelagianos, todo homem nasce "moralmente neutro", sendo capaz, por si mesmo, sem qualquer influência divina, de salvar-se quando assim o desejar. Uma das grandes disputas durante a Reforma Protestante versou sobre a natureza e a extensão do pecado original.

 

 

 






 

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