Lei e
graça
Introdução
Este é sem dúvidas um dos
temas mais difíceis de se entender e conciliar. A visão reformada ajuda o
cristão a desfrutar: do beneplácito da graça e do auxílio da lei, cada uma de
acordo com o papel que a elas é estabelecido na própria Escritura. Deixar de
entender essa relação é perder a essência do ensino bíblico. Ainda que sejam distintas,
a lei e a graça de Deus são inseparáveis. De nossa visão sobre a lei depende a
nossa visão sobre a graça.
J. Gresham Machen, famoso
teólogo norte-americano, escreveu em 1946 a respeito dessa relação: “Assim
sempre é: uma visão pequena da lei sempre traz o legalismo à religião; uma
visão ampla da lei faz do homem um que busque a graça. Queira Deus que
esta visão ampla possa novamente prevalecer”.
Desenvolvimento:
1.
Estamos sob a lei ou sob a graça?
Houve salvação no tempo do
Antigo Testamento? Se houve, como foram salvos os crentes que viveram naquele
período já que ninguém, segundo o Novo Testamento, é salvo pelas obras da lei?
Ora, qualquer pessoa que já
leu a Carta aos Hebreus sabe que os “santos” do Antigo Testamento eram, de
fato, crentes e salvos. E esses santos foram salvos pelas obras da lei? Claro
que não, foram salvos pela graça, por meio da fé, em Cristo. Portanto, a graça
de Deus não é exclusiva do Novo Testamento e ausente no Antigo Testamento.
Quando o crente no Antigo
Testamento depositava a sua fé em Iavé e naquilo que Iavé havia ordenado e
prometido no tabernáculo, ele estava dizendo que o seu salvador era Cristo, que
a sua redenção estava na obra do Messias prometido.
Em tempo algum existiu, nem
existirá, salvação fora da pessoa e obra de Cristo. Ao comentar Hebreus 10.1 (“…visto
que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca
jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano
após ano, perpetuamente, eles oferecem.”), Calvino afirma: Sob a lei foi
apontado em linhas rudes e imperfeitas o que no evangelho é demonstrado em
cores vivas e graficamente distintas…Para ambos o mesmo Cristo é exibido, a
mesma justificação, santificação e salvação; e a diferença está apenas na
maneira de pintar ou de demonstrar.
Como
devemos entender a lei hoje?
Para que serve a lei? Pode a
lei ajudar os crentes a entender a vontade de Deus? Pode a lei nos servir no
processo da santificação?
As Escrituras nos foram dadas
para serem lidas e entendidas como um todo, e não em partes isoladas e
estanques. Nos deparamos com livros que ensinam a estudar a Bíblia dizendo que
a parte mais importante é o Novo Testamento e que o Antigo Testamento pode ser
usado mais por “interesse histórico”. Esse tipo de visão não ajuda o estudante
a ter uma visão equilibrada do ensino bíblico sobre a lei e a graça.
Dentre muitos textos, observe
alguns que podem ser mal interpretados e levar o leitor a conclusões errôneas
sobre a relação entre lei e graça.
João 1.17 … a lei foi dada por
intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo.
Ao ler esse texto fora do
contexto, a primeira conclusão tirada é que a graça de Deus só passa a operar
depois da vinda de Cristo, ou ainda, que lei e graça são excludentes. Para muitos,
a graça veio como um substituto da lei e Jesus Cristo como um substituto de
Moisés. Porém, essa interpretação não é sustentável diante do contexto e da
teologia bíblica como um todo. É certo que João contempla muitos contrastes
existentes entre o período antes da vinda de Cristo (a antiga dispensação) e o
tempo que agora é chegado (a nova dispensação); entre uma das principais
figuras da antiga dispensação (Moisés) e aquele que veio cumprir de modo pleno
as promessas feitas anteriormente (Jesus). Mas isso não implica contraste e
exclusão e sim complementaridade e plenitude: Cristo veio fazer o que a lei e
Moisés não podiam fazer. A lei era uma figura de Cristo, uma sombra, que agora
é manifestada na sua verdade plena. A vinda física de Cristo e sua encarnação
não limitam a sua obra eterna. A sua graça já era operante nos tempos de Moisés
e antes dele.
Gálatas 2.16 … o homem não é
justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos
crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não
por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.
Uma leitura rápida do texto de
Gálatas sem o seu contexto faz com que o leitor coloque as “obras da lei” em
oposição à “fé” (representando respectivamente a lei e a graça). Ora, se já
existe um pré-entendimento que associa a lei ao período do Antigo Testamento e
a fé e graça ao tempo de Jesus Cristo (Novo Testamento) – e normalmente há – a
conclusão mais lógica desse leitor será que a salvação, como nós a entendemos,
existe somente depois da vinda de Cristo. Sem considerar o todo da teologia,
fica impossível chegar a uma conclusão diferente. Assim sendo, parece que no
Antigo Testamento não há verdadeira ou permanente salvação, pois como alguém
poderia ser justificado no tempo da lei? Mas não foi essa a intenção do
apóstolo Paulo ao escrever aos Gálatas. Voltamos ao que considero o problema
principal nesse tipo de interpretação: associar a lei ao Antigo Testamento e a
graça ao Novo Testamento.
Perguntamos: ao que Paulo se
refere quando menciona “obras da lei” e “fé em Cristo” nesse contexto? Aos
períodos do Antigo e Novo Testamentos? É certo que não! Assim sendo, a
interpretação do texto deve ser diferente das conclusões acima.
Na relação lei e graça, o texto
nos ensina que, sem fé, em qualquer tempo, é impossível ser salvo e que pelas
obras da lei ninguém será (ou foi) justificado. A única oportunidade meritória
de viver pela lei foi dada a Adão, que a perdeu quando pecou. Depois disso,
ninguém jamais foi ou será justificado pelas obras da lei. Ainda nessa relação,
podemos aprender que, em qualquer tempo, aquele que crê em Cristo pode ser
justificado, antes de sua vinda, crendo na promessa e, depois de sua vinda, na
promessa já cumprida.
Alguém teve que cumprir a Lei
por nós. Cristo cumpriu. Por isso depositando nossa fé nele, somos
justificados, mas a Lei foi cumprida para que houvesse a justificação. Quando a
Lei vem para nos condenar, Cristo se apresenta e diz: “Eu cumpri por ele”.
Romanos 6.14 … o pecado não
terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça.
Nós não estamos debaixo da
condenação da Lei. Porém, é a Lei que condena. Ela nunca deixará de existir. A
graça vem para aqueles que depositam a fé em Cristo. Estes são retirados da
condenação da Lei, mas ela continuará existindo para condenar os que não foram
alcançados pela graça e servirá aos eleitos como alvo que deverá ser alcançado
(tentado) por amor a Cristo. Não somos salvos por cumprir a Lei, mas para
cumprir a Lei.
Romanos 10.4 … o fim da lei é
Cristo para a justiça de todo o que crê.
As interpretações isoladas,
contemporâneas, não teriam como responder ao próprio apóstolo Paulo em Romanos
3.31 – “Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes,
confirmamos a lei” – ou ao Senhor Jesus quando disse – “Não penseis que vim
revogar a lei ou os profetas; não vim para revogar, vim para cumprir” (Mt
5.17).
O uso
da lei
O crente faz uso da lei de
Deus para compreender como viver e agradá-lo. Como saber o que agrada a Deus?
Como viver de acordo com sua soberana vontade? A resposta dada pelo próprio
Senhor é: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me
ama …” (Jo 14.21). E qual é o mandamento de Cristo senão o mandamento do
próprio Pai? Por isso o texto continua dizendo: “… e aquele que me ama será
amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele”. Porém,
sem a graça especial e salvadora, o homem seria maldito por causa dessa mesma
lei da qual agora ele se beneficia. Sem a graça de Cristo esse homem nada é,
senão um condenado ao castigo eterno.
Outro erro comum é pensar que,
na sua suposta dureza, a lei apresenta exigências impossíveis de se atender.
Não podemos nos esquecer de que a mesma lei que exige é também a lei que
providencia. Portanto, para o homem de Deus no tempo do Antigo Testamento, a
lei apresentava tanto a demanda quanto a graça. Se a lei exigia a perfeição,
ela mesma apontava para o sacrifício dos animais que representava o sacrifício
de Cristo e o verdadeiro perdão.
Não devemos nos esquecer de
que as críticas de Jesus não eram à lei, mas ao que os fariseus faziam em sua
interpretação da lei – tanto limitando seu entendimento ao ato externo quanto
expandindo - o fora dos parâmetros de Deus, multiplicando as ordenanças. Assim,
era um jugo e escravidão que eles colocavam sobre o povo. Jesus foi claro ao
afirmar:
Vinde a mim, todos os que
estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu
jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis
descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve (Mt
11.28 - 30).
Portanto, a graça salvadora é
também a graça que o move para o trabalho e para a efetivação do chamado
cristão. Sem a graça especial de Deus não haveria sequer o chamado do cristão
para a salvação. Nesse sentido, não há qualquer contradição entre a lei de Deus
e a graça de Deus. Uma não exclui a outra. Muitos, ao tentarem pregar sobre a
graça de Deus, acabam por modificá-la de tal maneira que a transformam em um
caminho de libertinagem em vez de liberdade e acabam por pregar “outro”
evangelho.
O crente em Cristo vive tão
somente pela graça, sua salvação é pela graça e sua vida é pela graça. E seria
por isso a lei de Deus inválida para o cristão? Não. Ainda que ele não possa
ser salvo pela lei, poderá nela aprender a vontade do seu Senhor. Nesse
sentido, a lei é apreciada pelo crente como uma lei graciosa.
2.
Como devemos entender e usar a lei
A lei positiva de Deus, aqui
enunciada a Adão, [Gn 2.17] é algumas vezes também chamada de mandamento
simbólico, porque a obediência a ela era um símbolo, ou um sinal, da deferência
do homem e do serviço a Deus. O objeto desse comando não era algo bom ou mal em
sua própria natureza, mas algo moralmente neutro ou indiferente: era mal
somente porque era proibido. O livro de Gênesis, assim, registra que, em adição
à lei natural gravada no coração do homem, Deus também deu a ele uma lei
positiva para testar a sua obediência.
Quebrar a lei é a mesma coisa
que quebrar o pacto. A partir daquele momento a obediência à lei não mais
poderia trazer vida, uma vez que a raça humana já se encontrava em estado de
morte.
No entanto, a revelação da
bondade de Deus não termina no pacto de obras, mas continua na revelação da sua
graça: Tendo-se o homem tornado, pela sua queda, incapaz de ter vida por esse
pacto, o Senhor dignou-se fazer um segundo pacto, geralmente chamado o pacto da
graça; nesse pacto ele livremente oferece aos pecadores a vida e a salvação por
Jesus Cristo, exigindo deles a fé, para que sejam salvos; e prometendo o seu
Santo Espírito a todos os que estão ordenados para a vida, a fim de dispô-los e
habilitá-los a crer (CFW VII. 3).
O pacto de obras não é
eliminado. Podemos afirmar que a humanidade continua debaixo da maldição do
pacto de obras à exceção daqueles que já foram remidos por Cristo por meio do
seu sacrifício quando recebeu em si mesmo a maldição desse pacto.
É com base nessa verdade que o
Senhor Jesus diz: “aquele que não crê, já está julgado” (Jo 3.18). Julgado com
base no pacto de obras, por estar em estado de morte (pecado original) e assim
ser incapaz de obedecer à lei de Deus.
E é com base no pacto de obras
que Jesus é chamado de maldito: “Cristo nos resgatou da maldição da lei,
fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito
todo aquele que for pendurado em madeiro)” (Gl 3.13).
Leis
na criação
A obra de Cristo consiste em
receber a maldição do pacto de obras, a maldição da lei, sem merecê-la,
conquistando assim o direito de redenção para a sua igreja, sua noiva, e assim
oferecer, de graça, a salvação para aqueles a quem quer salvar. Cristo, por seu
mérito, conquista o direito de vida para seus eleitos. Ele faz aquilo que nosso
primeiro pai não pôde fazer, daí a Escritura chamá-lo de “último Adão” (1Co
15.45).
Deus deu a Adão uma lei, como
um pacto de obras. Por esse pacto Deus o obrigou, bem como a toda sua
posteridade, a uma obediência pessoal, inteira, exata e perpétua; prometeu-lhe
a vida sob a condição de ele cumprir com a lei, e o ameaçou com a morte caso
ele a violasse, e dotou-o com o poder e capacidade de guardá-la (cf. Gn 1.26;
2.17; Ef 4.24; Rm 2.14 - 15; 10.5; 5.12,19 – CFW XIX. 1).
Que leis são essas? Observe,
por exemplo, as bênçãos proclamadas por Deus em Gênesis 1.28: … Deus os
abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e
sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo
animal que rasteja pela terra.
Várias outras ordens de Deus
aparecem logo nas primeiras páginas de Gênesis. No verso 29 Deus determinou o
tipo de alimento que o homem comeria. O próprio descanso de Deus no sétimo dia
é tido por Calvino como o estabelecimento da lei sabática, tendo como função a
santificação do homem: Primeiro Deus descansou; e então ele abençoou esse
descanso para que em todas as eras esse fosse tido como sagrado entre os
homens: ou, ele dedicou cada sétimo dia ao descanso para que o seu próprio
exemplo fosse uma lei perpétua.
O mesmo podemos dizer da
função dada por Deus ao homem com relação ao jardim: “Tomou, pois, o SENHOR
Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar” (Gn
2.15).
Esses exemplos da lei na
criação têm uma função muito especial no todo da revelação. Eles servem para
nos mostrar que a lei de Deus está ligada diretamente à forma com que ele
determinou relacionar-se com o ser humano, antes mesmo do pecado. Havia lei
antes da queda, do pecado e da morte, e ela estava inserida na base do
relacionamento entre a criatura e o Criador.
A lei foi dada ao homem no
contexto da criação, antes do pecado e antes de ser registrada e reconhecida
como Escritura. A lei, portanto, não é um evento pós-queda. A lei de Deus foi
dada antes da queda com uma função orientadora. Os servos de Deus em contato
direto com ele eram instruídos sobre como deveriam viver de acordo com a
vontade divina no contexto do pacto. Isso serviria para que o relacionamento
pactual e o conhecimento do Criador por parte da criatura se expandisse de
maneira que ele fosse glorificado e o homem pudesse ter plena alegria em
servi-lo. A obediência à lei estava associada à manutenção da bênção pactual. A
não obediência estava associada à retirada da bênção e aplicação da maldição. O
ser humano, desde o princípio, conheceu os propósitos de Deus por intermédio da
lei. Tendo quebrado a lei, ele se tornou réu e recebeu a condenação clara
proclamada pelo Criador: a morte. A lei foi dada ao homem de maneira
cumulativa, com a antecedência necessária para que pudesse ser obedecida, mas
não foi dada toda de uma só vez.
A Lei
interior
A Bíblia nos ensina também
sobre a lei interior. Ainda que a lei tenha sido dada de maneira objetiva e
exterior, revelada com clareza àqueles que a receberam e posteriormente
registrada de acordo com o propósito e inspiração de Deus, as Escrituras nos
falam de uma lei subjetiva, uma lei gravada no coração do homem. Em Romanos
2.15, lemos que os homens: … mostram a norma da lei gravada no seu coração,
testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente
acusando-se ou defendendo-se.
A lei de Deus, portanto, não é
apenas exterior ao homem, mas é também interior, e ele tem conhecimento dessa
“lei natural” pela manifestação da sua própria consciência. Calvino chega a
dizer que essa “lei interior” escrita ou gravada sobre o coração de todos, em
certo sentido “assevera as mesmas coisas que devem ser aprendidas das duas
Tábuas [os Dez Mandamentos]”.
Essa lei interior foi escrita
no coração do homem para que ele soubesse, desde o princípio, distinguir entre
o bem e o mal, o certo e o errado.
Quando Deus deu a ordem de não
comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, o homem já sabia que
o tomar daquele fruto era errado e contra a vontade de Deus.
Creio que é possível ver
alguns exemplos dessa lei em alguns episódios bem remotos da história bíblica.
Podemos começar ilustrando esse princípio com a “vergonha” de Adão e sua esposa
no jardim. Ainda que tenham quebrado uma lei clara e revelada, parece que a lei
interior (ou a antítese a ela) começa a manifestar-se nas atitudes tomadas
depois do primeiro pecado.
O esconder-se e a acusação
contra a mulher são indicações de que a sua consciência o acusava. Eles agora
conheciam experimentalmente a força da lei interior os acusando.
Logo adiante, no capítulo 4 de
Gênesis, encontramos o episódio do primeiro assassinato. Deus havia revelado de
maneira clara que a morte era uma consequência inevitável do pecado. No
entanto, pelo menos de maneira objetiva, não encontramos nenhuma proibição de
matar. Parece-nos que, ao assassinar seu irmão, Caim estava plenamente
consciente de seu pecado e temeroso de suas consequências mesmo que, de forma
objetiva, a proibição de matar ainda não tivesse sido declarada (isso partindo
da suposição de que o Senhor não lhe havia dito que não deveria matar). O
Senhor mesmo havia advertido a Caim sobre a sua inclinação para o pecado e a
necessidade de usar o seu julgamento para saber como proceder.
Essa lei, depois da queda do
homem, continua sendo uma perfeita regra de justiça. Como tal, foi por Deus
entregue no monte Sinai em dez mandamentos e escrita em duas tábuas; os
primeiros quatro mandamentos ensinam os nossos deveres para com Deus; e os
outros seis, os nossos deveres para com o homem (XIX. 2).
3. De
que lei estamos falando?
A lei cerimonial. Dirigia os
judeus para a fé no seu Messias. A lei cerimonial está agora cumprida em Cristo.
A lei judicial. Não é obrigatória para o governo cristão, mas é modelo para o
uso civil, encorajando o bom governo e a paz. A lei moral. Essa é permanente e
ainda aplicável a todos os cristãos.
O autor de Hebreus argumenta
que a lei levítica, cerimonial, foi dada debaixo do sacerdócio levítico, mas
que debaixo desse sacerdote nenhuma perfeição foi alcançada. Foi necessário um
novo sacerdócio, de um que não era procedente da tribo de Levi, mas de Judá,
para que viesse a perfeição. Esse recebeu o sacerdócio da ordem de
Melquisedeque. Ora, se o sacerdócio levítico foi abolido, a prática da lei
levítica também.
Quando o texto nos diz que “se
revoga a anterior ordenança”, está se referindo à lei levítica e não à torah
como um todo.
Com uma única oferta,
aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados. E disto nos dá
testemunho também o Espírito Santo; porquanto, após ter dito: Esta é a
aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei no seu
coração as minhas leis e sobre a sua mente as inscreverei, acrescenta: Também
de nenhum modo me lembrarei dos seus pecados e das suas iniquidades, para
sempre (Hb 10.14 - 17).
E onde encontramos a lei
moral? Já afirmamos que os Dez Mandamentos são o resumo da lei moral e várias
indicações no texto das Escrituras marcam a centralidade deles. Os Dez
Mandamentos foram escritos pela mão de Deus, gravados em pedra e colocados na
arca (Dt 10.1 - 5; 4.10 - 13). Os demais escritos de Moisés não foram gravados
em pedra, e foram colocados ao lado da arca (Dt 31.24 - 26). Isso, no entanto,
não diminui os seus escritos. Muito pelo contrário, esses atos de Deus eram
para a validação do que Moisés haveria de escrever posteriormente.
Se a lei moral não “existisse”
e não tivesse sido de alguma forma proclamada antes dos Dez Mandamentos
teríamos de considerar livres de pecados todos os que viveram antes da sua
entrega a Moisés no Sinai. Porventura aqueles que quebraram os mandamentos eram
inocentes porque a lei ainda não fora dada no Sinai?
É claro que não. Quando Paulo
declara que o homem conhece o pecado por intermédio da lei, ele tem em mente a
lei moral como um todo e não só o seu resumo, ainda que cite exatamente o
último mandamento: Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu
não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu
conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás (Rm 7.7).
“De maneira que a lei nos
serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados
por fé”. Calvino, comentando esse verso, disse: “a lei era a gramática da
teologia, que, depois de levar seus alunos por um breve caminho, os entregou à
fé.”
4.
Como a lei moral opera em nossos dias?
No uso teológico, a lei exerce
o papel de revelar e tornar claro o pecado humano e com isso torna a iniquidade
do homem ainda maior.
Já para os eleitos, mesmo
ainda não regenerados, a lei lhes mostra o quanto são vazios diante de Deus e o
quanto precisam dele, implorando sua ajuda, preparando-os para receber a graça
de Cristo (“… para com aqueles, aroma de vida para vida” 2Co 2.16b).
Assim, a lei, ao acusar o
eleito, o leva a apelar para a graça de Cristo.
O segundo uso da lei é também
chamado de Usus civilis – é a função da lei que restringe o pecado humano
ameaçando com punição as faltas contra ela. Nesse uso, a lei serve como uma
proteção comunitária. É por ter esse medo da punição da lei que o ser humano se
torna capaz de viver em comunidade.
Tendo em vista que não se
promulga lei para quem é justo, mas para transgressores e rebeldes,
irreverentes e pecadores, ímpios e profanos, parricidas e matricidas,
homicidas, impuros, sodomitas, raptores de homens, mentirosos, perjuros e para
tudo quanto se opõe à sã doutrina … (1Tm 1.9 – 1).
Assim, a lei exerce o papel de
coerção para esses transgressores e evita que esse tipo de mal se alastre ainda
mais na sociedade.
Essa ação inibidora da lei
cumpre ainda outro papel importante no caso dos eleitos ainda não regenerados.
Primeiro, antes da
manifestação da sua salvação, o eleito é ajudado pela lei a não cometer
atrocidades, não como uma garantia de que não fará algo terrível, mas como uma
ajuda, pelo temor da punição.
Segundo, antes de sua salvação
e no tempo da ignorância, os eleitos são levados, pelo medo da punição da lei,
e de forma gradual, a amar a Deus.
Por
que escrita?
Se a lei de Deus está impressa
na mente e escrita no coração dos crentes, qual a função da lei escrita por
Moisés?
Ela é realmente necessária?
Não basta um coração convertido, amoroso e cheio de compaixão para conhecer a
vontade de Deus? A “lei do amor” e a consciência do cristão orientadas pelo
Espírito Santo não bastam? Não seria suficiente apenas ter a paz de Cristo como
árbitro de nosso coração? (Cl 3.15).
Esse tem sido um dos grandes
erros em relação à lei de Deus. Da mesma forma como teve no jardim do Éden, a
lei moral tem, em todos os tempos, um papel orientador para os cristãos. Embora
guiados pelo Espírito de Deus, vivendo e dependendo tão somente da sua
maravilhosa graça, a “lei é o melhor instrumento mediante a qual melhor
aprendem cada dia, e com certeza maior, qual seja a vontade de Deus, a que
aspiram, e se lhe firmem na compreensão” (Intitutas 2.7.12).
Calvino exemplifica essa
verdade com a figura do servo que, de todo o coração, se empenha para servir
seu senhor, mas para ainda melhor servi-lo, precisa conhecer e entender melhor
aquele a quem serve. Assim, o crente, procurando melhor servir a Cristo,
empenha-se em conhecer a sua vontade revelada de maneira clara e objetiva na
lei.
A lei do SENHOR é perfeita e
restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria aos símplices (Sl
19.7). Esse verso mostra que pela lei perfeita (ensino pleno) de
Iavé a alma é restaurada. Como pode a lei restaurá-la? É possível que a alma do
incrédulo seja restaurada pelo ensino da lei? Por tudo o que já vimos, é claro
que não. A referência só pode ser à alma daquele que já é crente e que precisa
de restauração e sabedoria. E como pode a lei fazer isso? Ensinando ao crente a
vontade de Deus. Aprender a lei de Deus é ser revigorado por ela visto não
estarmos mais sob sua maldição.
Os preceitos do SENHOR são
retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina os olhos (Sl
19.8).
Para o regenerado, o crente no
Senhor, a lei é prazer, é desejável, inculca temor, restaura a alma e lhe dá
sabedoria. A lei em si não faz nenhuma dessas coisas, mas para o coração
regenerado ela traz prazer e alegria: “… no tocante ao homem interior, tenho
prazer na lei de Deus”
A lei é maravilhosa para
aquele que tem os olhos abertos pelo Senhor. Amar a lei de Deus é ensino claro
das Escrituras para os crentes. Viver na lei de Deus é bênção para o cristão.
Ela é o nosso orientador para melhor conhecer a vontade do nosso Senhor e assim
servi-lo melhor. Observe que o viver segundo a lei de Deus é considerado uma
bem-aventurança, é como ter fome e sede de justiça.
O que seria do cristão sem a
lei para orientá-lo? Como ele conheceria a vontade de Deus? (aliás, a pergunta mais
frequente entre os crentes no seu dia a dia). Ele seria um perdido, buscando
respostas em seu próprio coração enganoso. Ele poderia buscar conhecer a
vontade de Deus através do ensino da igreja, no consenso eclesiástico, na
autoridade de alguém que considerasse superior. Quem sabe buscaria conhecer a
vontade de Deus em experiências místicas e subjetivas, esquecendo-se de que
Deus já nos falou pelas Escrituras. Mas em tudo isso se depararia com os mesmos
erros.
Que o que Deus proíbe não se
há de fazer em tempo algum, e o que ele manda é sempre um dever; mas nem todo o
dever especial é para se cumprir em todos os tempos.
Sendo a lei de Deus eterna e perfeita, ela deve ser
cumprida em todos os tempos. As circunstâncias não mudam a lei moral. No
entanto, determinados deveres só podem ser cumpridos em determinados tempos.
Nesse sentido, temos de entender que os deveres do trabalho, descanso e culto,
por exemplo, devem ser cumpridos em diferentes tempos.
A
lei, como Cristo, tem sido sempre crucificada entre dois ladrões — antinomismo
de um lado e legalismo do outro. Ernest C. Reisinger.
Devemos
prestar grande atenção a estas coisas, em virtude de, com razão, podermos dizer
que a ignorância da distinção entre a lei e o evangelho é uma das principais
origens dos abusos que corromperam e ainda corrompem o cristianismo. Teodoro
Beza.
O
antinomanismo
A compreensão da graça como
excludente da lei é conhecida como antinomismo, uma velha heresia contra a qual
Judas e Pedro escreveram (Jd 4-19; 2Pd 2). O antinomismo, ao longo da História,
tomou várias formas e teve diferentes expressões. A versão contra a qual Judas
e Pedro escreveram enfatiza que o que Deus salva no homem é a alma e, portanto,
o que alguém faz de seu corpo é irrelevante. Na visão antinomista, a lei não
tem qualquer papel a exercer sobre a vida do cristão. Ela deve ser totalmente
rejeitada.
Na sua obra dedicada inteiramente ao assunto, Mark Jones afirma que Adão e Eva foram os primeiros antinomianos da história: “No jardim , ele foi contra (anti) a lei de Deus (nomos) quando transgrediu por falhar em guardar o jardim e proibir a sua esposa de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal.
No ano de 1537, Agricola travou uma disputa com o próprio Lutero, em Wittenberg, na qual afirmou que o “homem era salvo pela fé somente, sem levar em conta o seu caráter moral”. É no contexto dessa disputa que o termo “antinomianismo” vai ser usado pela primeira vez, justamente por Lutero, que escreveu uma obra, no ano de 1539, intitulada Contra os Antinomianos, na qual denuncia com uma retórica inflamada os ensinamentos de Agricola. Lutero, com postura que lhe era peculiar, referiu-se a Agricola e a todos aqueles que o seguiram como “falsos irmãos”.
No antinomismo, a lei é algo
do passado, ultrapassada pela graça de Cristo. Agora só o Novo Testamento e o
próprio coração servem para guiar o cristão.
Martinho Lutero, expressou
preocupação quanto a alguns de seus seguidores que, em seu zelo de proclamar a
graça, por tanto tempo desprezada pela igreja romana, acabaram por desprezar a
lei.
Uma das faces modernas do
antinomismo, enfatizando a graça em detrimento da lei, é o antinomismo
dispensacional. Essa forma de abordagem surgiu no século passado caracterizando
a lei como o meio de salvação no período mosaico e o evangelho na dispensação
do evangelho.
Existe ainda o antinomismo
situacionista, que descreve toda uma geração de cristãos que afirma que o amor
deve motivar toda a nossa prática e esse é superior à lei escrita.
Esse movimento propõe que a
ética das Escrituras não é absoluta, mas depende do contexto. Nem a lei moral
de Deus é absoluta, ela depende da situação.
lei não tem mais qualquer
papel determinante na ética cristã; o que determina a ética cristã é o
“princípio do amor”. Nesse sentido, a consequência dessa conclusão é que a
graça suplanta a lei. As decisões éticas devem ser tomadas levando em
consideração o princípio do amor e isso afeta a ética cristã como um todo.
Tome-se, por exemplo, a questão do aborto no caso de estupro. A ética
situacionista, uma forma de antinomismo, aprova o aborto como um ato de amor,
em casos de estupro, baseado no “princípio do amor” à mãe que foi estuprada.
Nesse caso, o amor à mãe, que teria dificuldades em viver com um filho fruto de
um estupro, fala mais alto. Desse ponto em diante o aborto passa a ser
aceitável. Esse tipo de pensamento é muito comum hoje até mesmo entre evangélicos.
Semelhante abordagem acontece com o tão controverso ponto de vista sobre a pena
de morte. Na perspectiva antinomista situacionista, a pena de morte não se
encaixa no princípio do amor ao próximo e, portanto, não pode ser uma prática
aprovada pelos cristãos.
Os argumentos mais comuns que
se ouvem é que ao aplicarem a pena de morte os executores se tornam como o
assassino e carecem do amor cristão. O pressuposto óbvio desse ponto de vista é
que o amor não era o princípio por trás das claras ordens de Deus no Antigo
Testamento sobre quando, como e por que a pena de morte deveria ser aplicada.
A ética situacionista destrói
as claras leis das Escrituras sobre o casamento. O divórcio passa a ser
aceitável pelo princípio do amor. Já se fala até em “adultério altruísta”.
Na visão situacionista,
aceitar o homossexualismo passa a ser um ato de amor. O homossexualismo deixa
de ser considerado pecado, ou, se assim considerado, um pecado aceitável.
"Thomas Shepard, um ministro na Nova Inglaterra, afirmou: “Aqueles que negam a utilidade da lei a qualquer um que esteja em Cristo tornam-se patronos da licenciosidade livre sob a máscara da graça livre”.
Nós reivindicamos estar livres das maldições da lei; eles, que estamos livres da direção, do comando da lei. Nós dizemos que estamos livres das penalidades, mas eles querem abolir os preceitos da lei. Eles nos acusam de fazermos uma falsa mistura de Cristo e Moisés, e que misturamos a lei e o evangelho. Quão injustamente eles fazem essa acusação contra nós [...] Nós rejeitamos a lei no que diz respeito à justificação, mas a estabelecemos como uma regra da santificação. A lei nos envia ao evangelho, para que possamos ser justificados, e o evangelho nos envia de volta à lei para inquirir qual é o nosso dever como aqueles que foram justificados. Qualquer coisa que digam a respeito da lei, lançam desprezo e desgraça sobre ela e sobre aqueles que a pregam. Contudo, sabemos que, em sua substância, ela é a imagem de Deus, um raio da sua santidade. Rennê, Alan; Rennê, Alan. Os Puritanos e a Lei Moral: Uma Resposta ao Antinomianismo (p. 33). Edição do Kindle.
Cristo
e a Lei
Haveria menos tragédias morais
entre os cristãos professos se a instrução salutar da Lei de Deus fosse
atendida cuidadosamente. Que o crente possa olhar exclusivamente para Cristo na
busca do poder capacitador de uma vida vitoriosa – como de fato deve – mas que
ele, ao mesmo tempo, se lembre que a vida santa não consiste em prazer
emocional, mas sim em cumprir os mandamentos de Deus.
… em verdade vos digo: até que
o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo
se cumpra (Mt 5.18). Com isso, Jesus começou a mostrar que o seu
ensino não se opunha à Lei e aos Profetas, mas à religião hipócrita praticada em
Jerusalém pelos fariseus e que, por fim, dominava e influenciava a maneira como
o povo praticava a sua religião.
Aquele, pois, que violar um
destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será
considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar,
esse será considerado grande no reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa
justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no
reino dos céus (Mt 5.19-20).
Fica muito claro no
ensinamento do Senhor que o respeito e o ensino da lei é algo muito sério, e
que, ainda que ninguém receba a cidadania do reino por seus méritos, no reino
há o “mínimo” e o “grande”.
Jesus reinterpreta a lei sobre
o homicídio (Mt 5.21-26), adultério (v. 27-32), juramentos (v. 33-37),
retribuição do mal (v. 38-42) e o amor ao próximo. Em todas essas seções, Jesus
usou a expressão “Ouvistes o que foi dito… eu porém vos digo”, fazendo um
contraste entre a interpretação da tradição e o verdadeiro significado da lei,
o significado interior. Em todos os casos, o significado interior compreende
uma visão e uma atitude mais difícil do que a interpretação da tradição. Matar
se estende a ter ódio e julgar; o adultério é mais do que a consumação de uma
relação sexual fora do casamento, mas a intenção do coração; o juramento por
qualquer coisa é sem sentido; a retribuição do mal se converte em dano pessoal;
o amor ao próximo se estende ao inimigo. Em nenhum caso temos uma nova lei, mas
a correta interpretação da lei conforme pretendida por Deus.
Jesus veio cumprir a lei e não
revogá-la; O cumprimento da lei seria absoluto de sua parte; Nenhum aspecto da
lei seria invalidado e nada dela passará até que tudo se cumpra, em todos os
seus aspectos, quer sejam morais ou civis e cerimoniais; em Cristo tudo se
cumpriu; A violação da lei e levar alguém à sua violação gera perda; O
cumprimento da lei gera recompensa; O significado da lei vai além da mera letra
e aparência externa; O padrão de justiça de Deus continua sendo o mesmo padrão
do Antigo Testamento; O padrão de justiça do crente deve exceder o padrão de
justiça exterior.
Essa é a descrição do
“primeiro uso da lei”. Antes de ensinarmos João 3.16, é necessário que o homem
saiba por que Deus enviou o seu Filho ao mundo e por que é necessário que nele
se creia. A consciência plena do pecado e da queda se faz evidente diante da
lei. Portanto, diante da lei, o pecador é confrontado com seu pecado e com a
forma como desagrada ao Criador do universo. Segundo João 16.8, a obra do
Espírito Santo é a de convencer o mundo “do pecado, da justiça e do juízo”.
Pecado, justiça e juízo só fazem sentido diante da lei de Deus. Sem lei, não haveria
pecado ou condenação.
O homem é convencido da
justificação em Cristo por meio do Espírito Santo que lhe mostra qual é o fim
da lei e a justiça decorrente da fé. Mas o que é, afinal, a justificação? A
justificação é a imputação da justiça de Cristo sobre os eleitos. E como Cristo
obtém esse direito? Ele toma forma humana e é obediente a toda lei de Deus,
debaixo do pacto de obras.
Conclusão:
E aqui chegamos a uma questão
central em toda a nossa abordagem: obediência a que? Ora, certamente obediência
a Cristo, a sua Palavra e a sua lei. E qual é a lei de Cristo, senão a própria
lei de Deus?
É caminhar contra todo o
ensino das Escrituras tentar dizer que a lei de Cristo é uma lei diferente da
lei da Trindade (cf. 1Co 9.21; Gl 6.2). O próprio Senhor Jesus nos ensina que
aquele que o ama guarda os seus mandamentos: Aquele que tem os meus mandamentos
e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e
eu também o amarei e me manifestarei a ele (Jo 14.21).
Pode a lei santificar? A
resposta clara é não. A lei não tem qualquer poder em si mesma para trazer
santidade ao crente. Ela nos serve como orientação para uma vida santa e reta?
Claro que sim. Talvez a tarefa mais difícil para nós seja identificar com clareza
os limites entre a obediência à lei de Deus e a nossa própria lei ou tradição.
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