Aprendendo com a família de José
Gênesis 37:1-11
Introdução:
· Gênesis 37 não é um relato sobre amor fraterno, mas sobre ódio entre irmãos. Na verdade, os irmãos não se dão bem em nenhum lugar em Gênesis.
· O tema de irmão contra irmão começou com Caim e Abel e continuou por todas as gerações com Isaque e Ismael, seguido por Jacó e Esaú.
· Claramente, Deus não escolheu a família de Abraão porque seus membros seriam os melhores representantes dos valores familiares tradicionais.
· Na introdução do relato, encontramos as personagens principais: José, seus irmãos, e seu Pai Jacó e a principal complicação da trama: o fato de que os irmãos de José o odeiam.
· Esta não é simplesmente a história de José. É, na verdade, a história de José e seus irmãos. José e seus irmãos eram patriarcas fundadores da nação de Israel.
· Era um grupo de indivíduos pecadores imperfeitos, profundamente defeituosos que Deus escolheu para fazer uma nação de sua propriedade.
Desenvolvimento:
JOSÉ
· José talvez fosse o membro mais correto desta família. Podemos presumir facilmente que, por ser o herói da história, ele deveria ser perfeito em tudo o que fazia. Não era assim.
· A primeira aparição de um personagem bíblico no palco de uma narrativa sempre é importante, e José não é exceção.
· Encontramo-lo aos dezessete anos de idade, sendo mandado aos campos a fim ajudar os irmãos no cuidado das ovelhas.
· O texto diz que ele "acompanhava os filhos de Bila e os filhos de Zilpa, mulheres de seu pai; e trazia más notícias deles a seu pai." (Gn 37.2).
· O que é que José fazia? Levava "más notícias" sobre seus irmãos para a casa do seu pai (Gn 37.2).
· Em nossa língua uma "má notícia" pode ser verdadeira ou falsa. Mesmo que verdadeiras, o texto diz que ele só levava más notícias.
· Além do mais, há a questão de como José lidou com os seus sonhos. Primeiro ele se viu colhendo grãos com seus irmãos, quando de repente, onze feixes se curvaram diante do seu (Gn 37.7).
· Depois disso, teve outro sonho, em que o sol, a lua e onze estrelas se inclinaram a ele (37.9). José já sabia que os irmãos o odiavam devido ao favorecimento de seu pai.
· No entanto, ao relatar os sonhos parece que estava esfregando a sua exaltação na cara dos irmãos. Uma coisa foi José ter contado a eles o primeiro sonho (o odiaram mais).
· Outra coisa foi José virar e relatar-lhes o segundo sonho, o que sugere insensibilidade em uma escala gigantesca.
JACÓ
· Há também um problema de Jacó como pai da família. A túnica especial não foi a primeira indicação de sua preferência por José.
· Quando Jacó voltava à Terra Prometida, ele teria de enfrentar seu irmão. Ouviu dizer que Esaú estava vindo ao seu encontro com quatrocentos homens.
· Por esta razão, o jovem José e sua mãe Raquel estavam protegidos na parte traseira da caravana, enquanto os irmãos mais velhos com as suas mães foram expostos, à frente (Gn 33.2).
· Como você acha que os irmãos se sentiram agora que seu pai os considerava dispensáveis?
· Jacó estava apenas repetindo o modelo da família que seguiu de sua própria juventude. É uma verdade trágica perpetuar a disfunção familiar que, quando crianças, observamos à nossa volta.
· Na família da infância, seu próprio pai, Isaque, preferira Esaú, enquanto ele fora o favorito da mamãe. Então, chegada a sua vez, fez o mesmo aos seus próprios filhos.
OS IRMÃOS
· Estavam unidos no ódio ao sonhador. Já o odiavam tanto que nem conseguiam cumprimentá-lo.
· O texto diz, literalmente: ... e já não lhe podiam falar pacificamente" (Gn 37.4). Isso, antes que os sonhos começassem. Depois desses sonhos, odiaram-no ainda mais (37.8).
1 - DEUS NO CONTROLE
· Ainda que seu nome não seja mencionado na passagem, isso não significa que o Senhor não estivesse ativo.
· Aqui, nesta passagem, a ação mais óbvia de Deus é que foi ele quem enviou os sonhos para José. O que o Senhor estaria pensando? Por que ele jogaria lenha na fogueira?
· Ele sabia exatamente como José responderia aos sonhos, também exatamente como Jacó e os irmãos reagiriam.
· Nenhuma das circunstâncias de suas vidas estiveram, nem por um microssegundo, fora do controle soberano de Deus.
· Ele utilizaria cada fragmento da dor e sofrimento para moldar as vidas de cada membro desta família e realizaria seus propósitos redentivos para a família e para o mundo inteiro.
· Não havia nada de acidental no fato de Deus ter mandado os sonhos a José. Tudo fazia parte de seu plano perfeito de criar e escolher uma comunidade de adoradores unida.
· Ação 1: No verso 13, Jacó enviou José a Siquém, onde os irmãos pastoreavam o rebanho, para inquirir sobre como eles estavam.
· O que Jacó estaria pensando? Como ele imaginava que os irmãos o receberiam, a quilômetros de distância de casa, especialmente vestindo sua primorosa túnica?
· Obedecendo ao mando do pai, José foi ao encontro dos irmãos. De início, a busca foi inútil, e ele poderia ter facilmente desistido e ido para casa, justificando que não os havia encontrado.
· Ação 2: José encontrou um homem que tinha a informação de que precisava (37.15). E um homem encontrou a José, que andava errante pelo campo, e lhe perguntou: Que procuras?
· Esse homem não somente se adiantou para perguntar a José o que procurava, mas era possivelmente o único de toda a área que sabia exatamente para onde os seus irmãos tinham ido.
· Se o homem tivesse caminhado na direção oposta, a história teria acabado de maneira bem diferente.
· José prosseguiu até Dotã, onde achou os seus irmãos (Gn 37.17). Mais precisamente, eles viram que José vinha ainda distante, e tramaram contra ele.
· Verso 19-20 "Vem lá o tal sonhador!" Vinde, pois, agora, matemo-lo e lancemo-lo numa destas cisternas; e diremos: Um animal selvagem o comeu, e vejamos em que darão os sonhos.
· Ao invés de mata-lo, jogaram em um poço, depois venderam-no e enganaram seu pai. Jacó, então, rasgou suas vestes e entrou em luto por seu filho.
· Não foram somente os sonhos de José que foram estraçalhados pelos eventos daquele dia. Os sonhos de Jacó foram também destruídos.
· O ponto mais óbvio que aprendemos disto é o controle soberano de Deus sobre todas as nossas circunstâncias.
· Vamos considerar as "coincidências" necessárias para que José descesse ao Egito. Para começar, Jacó precisou mandar José verificar como iam seus irmãos.
· Este teve, então, de encontrar o homem que lhe disse que os irmãos tinham ido a Dotã. Se os irmãos tivessem ficado em Siquém, José poderia facilmente tê-los encontrado.
· Porém, eles não estariam na principal estrada para os camelos viajarem para o Egito. A caravana que passava tinha de estar indo para o Egito e não para outro destino qualquer.
· Os ismaelitas teriam de vendê-lo à casa de Potifar, para que as peças se encaixassem para a próxima parte do plano de Deus.
· Finalmente, Jacó tinha de ser enganado com sucesso mediante a manobra dos irmãos quanto à túnica, ou a família certamente teria sido rompida de modo irreparável.
· Todas essas coisas precisavam acontecer exatamente na ordem e na hora certa para que José descesse ao lugar onde ele precisava estar, para que, ao fim, pudesse salvar toda a família da fome.
· Coincidência? Acho que não.
2 - DEUS TEM UM PROGRAMA DE TREINAMENTO NO SOFRIMENTO
· O que Deus estaria fazendo em tudo isto? Havia uma obra necessária a ser feita no coração de José, que ainda não estava pronto para ser um líder.
· Nesta etapa, ele ainda era um jovem excessivamente impetuoso e egoísta e precisaria ser preparado na clássica escola de Deus.
· José seria preparado através de provações, tentações e sofrimentos até que Deus decidisse sobre sua prontidão.
· O caminho do crescimento espiritual de José envolveu o sofrimento, separação do lar e da família, ter o caráter arrastado na lama e ser abandonado e esquecido durante anos.
· Foi um processo de treinamento necessário para torná-lo a pessoa que Deus o chamara para ser.
· Foram lições que ele jamais teria aprendido, assentado confortavelmente na casa de seu pai, vestindo sua túnica exclusiva.
· Quem sabe se você se encontra, neste exato momento, em uma fase do programa de treinamento de Deus? Sente que o Senhor se esqueceu completamente de você.
· Como você poderia reagir a esse período da vida? Não tem sonhos pessoais para recorrer, como José, que explanem o plano de Deus para a sua vida.
· Tem, porém, algo melhor: "aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus" (FP 1.6).
· Este período de treinamento doloroso certamente o equipará para servir a Deus mais plenamente, nos tempos adiante.
· A rota de treinamento de Deus pode levá-lo por um caminho que você jamais teria escolhido. No entanto, ele estará com você a cada passo.
· A escola, para os irmãos de José, envolveria especialização dupla, nos departamentos do pecado e do arrependimento.
· Oramos repetidamente: "Não nos deixes cair em tentação," mas a tentação parece nos procurar assim mesmo. Repetidas vezes caímos nos mesmos modelos de desobediência.
· Cada um de nós envergonha o nome de Cristo diariamente por meio de nossa ira, nossas palavras e ações maldosas, nosso orgulho, nossa fofoca.
· Nosso pecado repetidamente nos castiga e mostra-nos que Deus não nos escolheu porque somos gente tão maravilhosa.
· Longe disso, somos pessoas profundamente quebradas, rebeldes, que, deixadas por si mesmas, não conseguem permanecer fiéis a Deus sequer por um instante.
3- A SOBERANIA DE DEUS SOBRE EVENTOS INEXPLICÁVEIS
· Os sonhos de Jacó e de José foram completamente rompidos e despedaçados, e não houve uma voz do céu que lhes assegurasse que no final tudo acabaria bem.
· Ficaram sem nada de que depender, senão da fé em Deus e nas suas promessas.
· Talvez você duvide ser possível que Deus esteja no controle soberano da confusão em que sua vida se tornou. Então, deixe que a experiência de José fale ao seu coração.
· O amor idólatra de Jacó por José precisava ser desafiado, e para que isso acontecesse, este teve de ser levado embora.
· Deus amava demais a Jacó para deixar que ele continuasse agarrado confortavelmente à sua idolatria.
· Assim também, nossa dor jamais será sem sentido. Deus sempre tem um bom propósito a realizar por meio dessa dor, tanto em nós quanto por nosso intermédio.
SONHOS DESPEDAÇADOS
· Nossos sonhos para este mundo podem ter sido estraçalhados, mas somente a fim de que Deus produza algo mais puro e rico dos pedaços quebrados que ficaram.
· Deus usará nossas provações mais dolorosas, nossos pecados e os pecados de outros contra nós para nos mostrar mais a respeito de nossos próprios corações.
· Nos mostrar mais a respeito da necessidade que temos dele, mais de nossa desesperada necessidade do evangelho, e mais da condição dilacerada do mundo caído em que vivemos.
· Ele usará essas provações para nos refinar e santificar e ensinar a ver melhor, que o verdadeiro tesouro que precisamos buscar é ele mesmo, somente ele.
Conclusão:
· Esta narrativa não é somente sobre o que Deus fez nas vidas de Jacó, José e seus irmãos. É sobre o que ele está fazendo ao redimir para si um povo em Cristo.
· Da mesma forma, a sua história faz parte da história maior do propósito redentivo de Deus. Da tribo de Judá é que viria aquele de quem falou a promessa de Gênesis 3.
· Esse glorioso Messias voluntariamente se humilhou e se permitiu entrar na escola do sofrimento e da tentação.
· Deixou de lado a merecida túnica de honra e o lugar seguro ao lado de seu Pai como favorito escolhido. Durante seu ministério terreno, os seus próprios irmãos não acreditavam nele (Jo 7.5).
· Deve ter sido doloroso! No entanto, ele nunca revidou com ódio.
· O que o Pai estaria pensando, ao enviar voluntariamente seu Filho amado ao barril de pólvora da humanidade decaída e pecadora, dando-lhe corpo fisico passível de ser torturado e ferido?
· Ele pensava em mim e em você, na igreja que estava criando, chamando à existência — uma nova e unida comunidade de adoradores, feita de pecadores redimidos.
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