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O segundo mandamento e o seriado The Chosen


O segundo mandamento e o seriado The Chosen

Introdução:

Nos últimos dias tenho visto muitas críticas à série “The Chosen” (Os escolhidos).

Muitos afirmam que este seriado quebra o segundo mandamento, pois se faz uma imagem de Cristo.

Seria então pecado assistir a esta série ou trata-se de radicalismos desnecessários?

Desenvolvimento:

O segundo mandamento é o mais longo: “Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos” (Ex 20.4-6).

A regra é muito simples: “Não farás para ti imagem de escultura” (v. 4a; veja também Lv 26.1).

O que isso significa? Significa que não posso tirar uma foto? Fazer um quadro? Ter uma obra de arte? Não podemos fazer peças teatrais sobre o nascimento de Cristo? Assistir filmes sobre Jesus?

Claro que não! Não é isso que o mandamento nos diz.

A conexão entre os versos 4 e 5 mostra que o que Deus proíbe não é arte em si mesma, mas arte feita como um objeto de adoração. Os dois primeiros mandamentos se relacionam intimamente. Não tenham outros deuses e nem façam imagem de deuses.

John Frame afirma: “O segundo mandamento não proíbe nem mesmo a arte no local de adoração. Seu argumento é baseado no uso de imagens de querubins no local mais sagrado do tabernáculo” (Ex 25.18-20).

A imagem proibida é aquela representada para uso de adoração.

A serpente de bronze era uma imagem? Sim. Sua construção foi com o objetivo de ser adorada? Não! Ela tinha um objetivo definido por Deus, conforme está no texto: “Disse o SENHOR a Moisés: Faze uma serpente abrasadora, põe-na sobre uma haste, e será que todo mordido que a mirar viverá. Fez Moisés uma serpente de bronze e a pôs sobre uma haste; sendo alguém mordido por alguma serpente, se olhava para a de bronze, sarava.” (Numeros 21. 8-9).

Interessante observar que essa serpente de bronze, alguns anos mais tarde, virou um deus para o povo de Israel, que desobedeceu a Deus no uso que deveriam fazer dela. O rei Ezequias, centenas de anos mais tarde a destruiu, mostrando claramente o desagrado de Deus, pois o povo estava quebrando o mandamento adorando essa serpente, e até deram um nome a ela:

“Removeu os altos, quebrou as colunas e deitou abaixo o poste-ídolo; e fez em pedaços a serpente de bronze que Moisés fizera, porque até àquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso e lhe chamavam Neustã.” (2Rs 18. 4)

O caso dessa serpente de bronze é bastante claro a respeito do uso correto e incorreto que se pode fazer de uma imagem segundo o mandamento bíblico. Deus lhe atribuiu um uso correto que não quebrava o mandamento. Mas o povo fez um uso diferente transformando-a em um deus, quebrando o mandamento.

Jonathan Roumie não é Jesus. Ele não deve ser adorado. Ele não fez imagem, mas ele apenas está representando.

Quanto a Jesus

Deus se fez visível na encarnação do Filho. Jesus esteve entre nós e as pessoas puderam vê-lo face a face.

Não temos a certeza de como Ele era, mas nós imaginamos. Não há um ser na terra que não imagine como era Cristo. Isso é intuitivo. Como pode ser pecado se Cristo esteve entre nós e, só este fato, me faz imaginar como Ele era? Seria pecado imaginar como Jesus era se Ele esteve entre nós?

As crianças precisam aprender que Jesus foi 100% homem. Não era apenas Deus, ou um espírito, ou uma manifestação da natureza. Trazer lições às crianças sem uma imagem de Cristo é fazer as crianças pensarem que Jesus não foi humano. É trazer confusão na cabeça das crianças.

Essa prática, dá a criança a impressão de que Jesus, durante seu ministério terreno, era uma presença invisível. O pior que isso pode levar ao docetismo. O docetismo diz que Jesus não veio realmente em carne. Esse é um erro muito sério, que devemos desencorajar em nossos filhos. 

E quanto à Deus (primeira pessoa da trindade)?

É claro que não devemos fazer imagens ou ilustrações do Deus invisível. Deus nunca se revelou a nós. Não podemos inventar nada sobre aquilo que não temos a mínima condição de saber como representar.

Qualquer tentativa seria tentar diminuir Deus de sua soberania. A bíblia nos afirma que Deus é espírito e devemos adorá-lo como tal.

O perigo dos ídolos é exatamente porque as pessoas que os fazem não conseguem adorar um Deus invisível. Quem precisa de imagens para adorar está, implicitamente, afirmando a inexistência de Deus.

Para estas pessoas, sem imagem não há como adorar, então não pode haver um Deus invisível. Um ídolo torna finito o Deus infinito, visível o Deus invisível, impotente o Deus onipotente, prende o Deus onipresente em um local, torna o Deus vivo inanimado e material o Deus espiritual.

Em suma, transforma-o no oposto exato daquilo que ele realmente é. Portanto, toda a ideia de idolatria se apoia no absurdo do ser humano tentando construir a sua própria imagem de Deus.

Um ídolo não é a verdade, mas uma mentira. É um deus que não enxerga, sabe, age, ama ou salva. O que a imagem sempre pretende fazer na adoração é nos distrair de ouvir a Palavra. O crucifixo, o ícone, o drama e a dança – essas coisas não ajudam a adorar, antes, tornam impossível uma adoração verdadeira. Numa era visual, precisamos ter ainda mais cuidado para não olharmos para a imagem, mas ouvirmos a Palavra.

As pessoas estão constantemente à procura de um deus mais maleável, um deus que possa ser adaptado aos seus propósitos.

Conclusão:

Portanto, o que o segundo mandamento proibia não era a produção de coisas, mas a produção de coisas que serviriam como objetos de adoração. Somos proibidos de fazer imagens de Deus para usá-las em sua adoração. Deus aprecia a arte, mas não tolera a idolatria.

Não vejo problema em assistir “The Chosen”. Não vejo problemas em teatros, filmes etc. São apenas representações sem intenções de adoração, mas mostrar que Cristo esteve entre nós e foi plenamente humano.

É claro que devemos filtrar todas as coisas. Nestas séries existem cenas extrabíblicas que devem ser analisadas. Tudo deve ser confrontado com as Escrituras. Também não vejo problemas em imagens para ensino infantil. Aliás, até recomento para fugir do docetismo.

Proibir o que a bíblia não proíbe é tão errado quanto liberar o que a bíblia não libera.

Estejamos alertas.

 


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